É hora de replanejamento financeiro

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O rumo do barco

A mudança dos ventos no cenário econômico brasileiro sugere que é hora de ajustar as velas do barco, como nos ensinou o filósofo chinês Confúcio.

No meio da ventania, quem conseguir manter os olhos abertos perceberá em que direção deve ajustar as velas. Na área de finanças pessoais, a primeira percepção é que o desaquecimento econômico (para não falar em recessão) e os ajustes fiscais vêm alterando a relação entre os diferentes tipos de investimentos disponíveis no mercado brasileiro. É preciso fazer um replanejamento.

Lastro para renda fixa

Com a recente escalada dos juros, chama a atenção a migração de recursos para ativos de renda fixa. Afinal, numa primeira leitura, para que se arriscar com a renda variável? Não à toa, LCIs, LCAs e CDBs voltaram a ser as estrelas das aplicações.

Mas os novos parâmetros devem ser constantemente questionados e relativizados, porque a ventania parece longe de acabar.

As LCIs e LCAs, por exemplo, já estão com suas ofertas reduzidas por falta de lastro. O lastro é justamente a ligação desses produtos com a economia real, que está desaquecida. Assim, os agentes do segmento imobiliário, para ficarmos apenas no terreno das LCIs, já não demandam tanto crédito dos bancos para lançamentos, enfraquecendo o ponto de partida desse produto financeiro. Sem a garantia (o lastro) de novos imóveis, as instituições financeiras não emitem novas LCIs e, portanto, não fazem a ponte entre os poupadores e os tomadores de recursos. Ou seja, o milagre das LCIs e LCAs, embora vantajoso no momento, não durará para sempre. O replanejamento, portanto, deve ser dinâmico e flexível.

Inflação e crescimento

Outra variável da economia que se deve sempre ter em mente ao investir é a taxa de inflação. Monstro adomercido nos últimos anos, a inflação vem mostrando garras que se expressam, hoje, em mais de 8% no acumulado em 12 meses. Considerar esse novo patamar, bem como as taxas e impostos incidentes em cada aplicação, é fundamental para o cálculo do juro real e as consequentes projeções do ganho efetivo dos recursos, nas linhas e colunas da planilha a ser reajustada.

Entender o que o governo projeta para os próximos anos, com o objetivo de acertar as contas públicas e promover o crescimento do país, é também importante para fazer as apostas financeiras que envolvem a atividade econômica das empresas. A estratégia do governo parece confiável? Dará certo? Se sim, que setores serão beneficiados? Quais os mais resistentes a crises? Como ficam as estatais?

Regras de ouro do replanejamento

Levantei aqui apenas alguns pontos que reforçam as incertezas do momento para ilustrar como as coisas estão mais nubladas, mais complexas. E nem mencionei, entre tantos outros complicadores, o turbilhão ético-político que assola o país ou a intrincada conjuntura global.

A moral desta história é respeitar algumas regras de ouro do mercado:

1) A diversificação de investimentos, que cria colchões de proteção e amplia as possibilidades de ganhos. Exemplificando, embora os tempos sejam de renda fixa, a renda variável apresenta também oportunidades de ganho. Vale ficar atento.

2) Isso nos leva à segunda lição, que é a busca pelo auto conhecimento, imprescindível para calibrar o percentual de risco em nossas carteiras. O quanto do total investir em cada produto? Há “estômago” para aplicações de maior risco? Qual a minha ambição, as minhas metas?

3) Por fim, fazer análises requer noções básicas de finanças e muita leitura a partir de fontes confiáveis em conjuntura econômica, como jornais e blogs especializados. Ou conversas e troca de ideias com consultores e profissionais do mercado. Mas a decisão de investir, em última instância, é pessoal, apoiada em vivências e intuições embasadas.

Afinal, não dá para contar com a sorte. Ajustar as velas do barco ou reorientar o planejamento requer doses de técnica e percepção, o que não é nada fácil no meio da ventania.

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