O gato caiu do telhado

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Levy por Meirelles? Em artigo publicado no site O Financista, o economista da Órama e professor do Ibmec Alexandre Espirito Santo analisa o momento atual e questiona se uma possível troca no Ministério da Fazenda resolveria os problemas por que passa o Brasil atualmente. Segue abaixo o texto de Alexandre Espirito Santo:
Qualquer um já ouviu aquela história: se você quer dar uma má notícia a alguém comece com “o gato subiu no telhado”…

Nos últimos dias, o mercado financeiro vem especulando sobre uma possível mudança no comando da nossa economia. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, seria substituído por alguém que se dispusesse a assumir os enormes desafios que se impõem neste momento (o principal seria resgatar a confiança do empresariado), para que o PIB volte a crescer. Sob essa ótica, o nome do ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ganhou força por dois motivos básicos: tem o total apoio do ex-presidente Lula e é bem aceito pelo setor produtivo.

Nossa economia está diante de um quadro absolutamente desolador. Em 2015, o crescimento do PIB será negativo em torno de 3%. A inflação, medida pelo IPCA, encontra-se em mais que o dobro do centro da meta de 4,5%, caminhando para dois dígitos. Nossa moeda perdeu mais de 35% de seu valor ao longo de 2015, e a produção industrial só faz cair. Com a inflação nos píncaros, a confiança do consumidor desabou para o menor valor da série histórica, e as projeções do boletim FOCUS, para 2016, não são nada alvissareiras. Se o PIB do ano que vem for negativo, como se estima, será a primeira vez, desde a década de 1930, que teríamos dois anos consecutivos de queda no produto brasileiro.

O ponto que gostaria de analisar é se o problema central é o ministério da Fazenda. Será que a substituição de Levy por Meirelles seria, de fato, uma mudança radical ou estaríamos somente trocando o ocupante da cadeira? Se a resposta for essa, seria o típico caso de trocarmos seis por meia dúzia.

Pelo que se conhece das ideias de Meireles, não consigo enxergar uma mudança de posição dramática em relação ao atual inquilino. O antigo titular do BC de Lula, por reiterada vezes, sugeriu que o problema da nossa economia é, sobretudo, fiscal, assim como Levy vem enfatizando.

A favor de Meirelles haveria uma nítida boa vontade do empresariado paulista. Ademais, como ex-integrante do governo petista, transitaria com maior desenvoltura do que Levy no Congresso. O atual ministro encontra-se totalmente desgastado com os partidos da base aliada e com os próprios colegas de ministério.

Minha crença é que se essa troca acontecer (de fato) teríamos pouco a mudar, uma vez que o substituto deverá permanecer focando na disciplina fiscal, que é o grande nó da nossa economia, no momento. Uma ajuda das privatizações seria bem-vinda, porém os preços dos ativos estão deprimidos, o que não favorece a retomada do programa por enquanto.

Pelo que a imprensa divulga, a presidente Dilma não quer substituir Levy por Meirelles. Contudo, a impressão que se tem é que o ex-presidente Lula, que tem forte ascendência sobre sua pupila, já deu a má notícia para ela. Será que ela resistirá?

Levy, em viagem ao G-20 no fim de semana passado, usou como metáfora, para justificar a estagnação da economia, a música “A praça”, de Chico Buarque. Mal sabe ele que estão entoando, para cima dele, “atirei o pau no gato”.

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