Jacaré ou camaleão?

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“Tem boca de jacaré, couro de jacaré, rabo de jacaré… É jacaré!” – Leonel Brizola

Virar o calendário de um ano para o outro faz renovar as esperanças. Afinal, o ser humano é movido por expectativas, e a passagem da noite de réveillon tem um poder “mágico” sobre a maioria de nós. É como se os fogos, que celebram a virada, encerrassem um ciclo da nossa vida e descortinassem um novo, mais promissor.

Nos últimos dias de dezembro, muitos analistas maldisseram o ano que ora se encerrava e desfiaram linhas e mais linhas de pessimismo para 2016. E não estiveram sozinhos. O próprio ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, buscou um tímido mea culpa, em longa entrevista, afirmando que o ano fora ruim por conta de alguns equívocos de gestão. Até mesmo a presidente Dilma Rousseff, em artigo em 1º de janeiro e depois num café da manhã com jornalistas, sugeriu erros, apesar de apregoar otimismo para o ano que chega, talvez por conta da mudança no Ministério da Fazenda, agora com Nelson Barbosa.

Na verdade, a presidente está dando uma guinada para onde se sente mais confortável. Com Joaquim Levy à frente do ministério, Dilma parecia um peixe fora d’água. Assim sendo, dizem que 2016 será uma espécie de renascimento para os petistas, pois, para eles, as bandeiras econômicas tradicionais serão novamente hasteadas, com a ajuda de um novo comandante na economia. Neste momento, por exemplo, o partido já polemiza, pressionando para que o BC reduza as taxas de juros, libere parte das reservas internacionais para investimentos em infraestrutura e que Dilma recue em relação à reforma da previdência.

A prova cabal do alívio petista ocorreu no dia da posse do novo ministro, quando o líder do governo, deputado José Guimarães, do PT-CE, afirmou que o Brasil precisava de “mais governo e menos mercado”. Também, naquele mesmo dia, a presidente Dilma assegurou que Barbosa iria surpreender os mais céticos. Lembremo-nos que foi ele um dos formuladores da chamada “Nova Matriz Macroeconômica” do primeiro mandato.

Nos primeiros dias de sua gestão, Nelson Barbosa busca passar uma imagem pragmática, sobretudo no aspecto fiscal, tentando se distanciar dessas sugestões mais polêmicas. Todos sabem que o novo ministro tem experiência com a máquina pública e possui bom trânsito entre os políticos: são ótimos predicados para quem precisará transitar em terreno espinhoso. Todavia, pelas convicções desse governo com qual sempre se alinhou, não é de se esperar uma guinada pró-mercado. Quando o inquilino anterior era um “chicago boy”, vá lá. Porém, idependentemente de mérito, convenhamos que foi uma tremenda incoerência ter colocado Joaquim Levy à frente da economia, no início do primeiro mandato.

Agora, pelo já descrito, a coerência parece retornar. Mas existe uma enorme dúvida no mercado: quem estará realmente no comando da Fazenda? Em outras palavras, Barbosa conseguirá afastar o espectro do intervencionismo e conquistará a confiança dos mercados financeiros ou será coerente com seu passado do primeiro mandato, agradando o PT?

Olhando pelo lado real, alguns empresários, por óbvio, manifestaram apoio ao nome do novo ministro, pois as chances das políticas de estímulos setoriais reemergirem não são desprezíveis e soam coerentes. Disseram que vão investir! Mas será que efetivamente retornarão com seus investimentos, num cenário de crise institucional e política, como o atual? Só o tempo para mostrar se a prática será coerente com o discurso. Enquanto isso, vamos observar se o jacaré se transformará em camaleão. Será?

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