Panorama Semanal – 18 a 22 de Janeiro*

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Em uma palavra: juros.

O compasso de espera pela decisão do Copom transcorreu com emoção. Inicialmente, a expectativa do mercado era de alta de 0,5 ponto percentual  na taxa Selic. Mas na terça-feira, a um dia do anúncio da taxa, em um movimento nada ortodoxo, o presidente do BC, Alexandre Tombini, divulgou uma nota que indicava mudança nessa quase certa elevação – isso, após ter reforçado a alta desde a última reunião e em carta ao ministro da Fazenda. Tombini justificou com as “significativas” revisões de projeções de crescimento para o país feitas pelo FMI.

Assim, de um dia para o outro, o mercado começou a apostar em 0,25 ponto. Em paralelo,  espalharam-se as críticas a respeito da postura de Tombini e a percepção de que a mudança de rota era fruto de pressão do Planalto e do PT. A surpresa, no entanto, foi ainda maior ao fim da reunião do comitê, com o anúncio de manutenção da taxa em 14,25% ao ano, gerando dúvidas no mercado sobre a importância que o governo dá ao controle da inflação e sobre a credibilidade do Banco Central.

A quinta-feira, então, foi o dia de o mercado digerir o fato. O dólar comercial, já pressionado por China e petróleo, fechou em alta de 1,47%, avançando para o recorde histórico de R$ 4,1631. A expectativa de retomada do aperto monetário vinha dando suporte ao real, nesta atual conjuntura global de aversão ao risco.

O Ibovespa, por sua vez, renovou sua mínima em sete anos no meio desta semana turbulenta, fechando em  37.645 pontos, com destaque negativo para Petrobras e empresas ligadas a commodities. Na quinta-feira, no entanto, houve alguma reação na Bolsa com o discurso do presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, a alta na cotação do petróleo e a manutenção dos juros brasileiros, comemorada pelo setor produtivo. Assim, o Ibovespa encerrou em alta de 0,19%, para 37.717 pontos.

Esta semana dos juros começou com as já usuais preocupações com a desaceleração da economia chinesa e a derrocada do preço do petróleo. No fim de semana passado, com o término das sanções ao Irã, a cotação do barril caiu ainda mais, para algo em torno de US$ 26. Além disso, relatório da Agência Internacional de Energia mostrou que a oferta global de petróleo vai continuar a superar a demanda este ano.

A novidade na China foi a divulgação do crescimento em 2015 de 6,9%. Embora em  linha com a meta do governo (cerca de 7%) e das projeções dos economistas, foi a menor taxa em 25 anos. Uma das questão cruciais é a condução da política econômica pelo governo chinês, além da desconfiança de uma parte do mercado de que o número divulgado não é o número real. Seja como for, há uma expectativa de que haja novo estímulos.

Tudo isso gera temores de uma recessão global. Segundo as tais projeções do FMI que teriam alterado a rota do Copom, a economia do Brasil só voltará a crescer a partir de 2018. O detalhe é que a recessão brasileira, segundo o Fundo, será a pior do mundo este ano.

Ainda no cenário externo, destaque para a declaração do presidente francês, François Hollande, que anunciou um pacote de US$ 2,2 bilhões para combater o que chamou de “emergência econômica e social”.

Nos Alpes suíços, em Davos, na véspera do Fórum Econômico Mundial, repercutiu um levantamento que prevê a perda líquida de cinco milhões de empregos nos próximos cinco anos com a chamada “quarta revolução industrial” (inteligência artificial, robótica, impressão 3D, nanotecnologia etc). O desmonte ocorreria em 15 grandes economias, incluindo o Brasil.

Se o futuro não parece bom para os trabalhadores brasileiros, o retrato em 2015 também não foi. Segundo o Caged, o mercado formal de trabalho fechou 1,5 milhão de vagas no ano passado no país. Foi o pior resultado da série histórica, iniciada em 1992. Não à toa, o país começou 2016 com 59 milhões de consumidores inadimplentes, de acordo com estimativa da Serasa Experian.

A arrecadação no ano passado, por sua vez, foi a pior desde 2010, 5,6% abaixo da registrada em 2014. Os tributos e contribuições federais somaram R$ 1,22 trilhão no ano passado. Aumentam as chances, assim, de a CPMF ser aprovada até maio, entrando em vigor em setembro.

Com tanto assunto na economia e o Congresso em recesso, a esfera política anda morna. De novidade, a imprensa destacou a conversa entre a presidente Dilma Rousseff e o vice-presidente Michel Temer, em que Temer teria dado conselhos no sentido de o governo “ouvir” mais.

No âmbito da Lava Jato, o ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque foi denunciado pela sexta vez, acusado de ‘auferir valores milionários com a prática de crimes contra a estatal brasileira’. E a delação do ex-diretor Nestor Cerveró envolveria o nome do senador Fernando Collor.

Obrigada, bom fim de semana e até o próximo Panorama Semanal da Órama.

Dados atualizados até 08h44 de 22/01.

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