O teste de uma nação

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Nem Olimpíadas, nem impeachment, nem mesmo a crise econômica. Parece que o assunto do ano no Brasil em 2016 será mesmo o zika vírus. Infelizmente. A esperança, além de uma ação mundial eficaz, via OMS, é que a tragédia do zika abra os olhos da sociedade brasileira, em particular de seus políticos e governantes. O zika vai “testar o Brasil como nação”.

A profecia vem de fora, é uma visão de Bruce Aylward, coordenador da resposta mundial contra o zika vírus e diretor-executivo do departamento de Surtos e Emergências da OMS. Em entrevista ao repórter Jamil Chade, publicada no dia 30 de janeiro pelo jornal “O Estado de S.Paulo”, o médico canadense diz que, em situações críticas como esta, pode-se optar por uma de duas direções: a primeira é quando políticos e demais atores sociais decidem que podem “ganhar pontos” com o zika vírus; e a outra, recomendável, é quando todos se unem na mesma guerra contra o inimigo (mosquito), em prol do país. “Isso é o teste de uma nação. Do povo de uma nação”.

O desafio de escolher o caminho certo passa pela maturidade. “A atual geração de líderes políticos tem essa habilidade?”, questiona o médico na entrevista. Sua aposta é que sim, mas está cético. “Vamos ver”, complementa, lembrando que a população saberá discernir quem mostrou liderança e quem tentou apenas tirar proveito político em meio ao pânico transmitido pelo Aedes.

Um país realmente unido, com políticos maduros, é cena que não vemos há muito. Seria interessante, só para variar, pensar apenas na população por uns tempos. Na classe política e nas elites não são poucos os que vêm agindo em nome de seus projetos pessoais de poder. Muitas decisões, cruciais para a vida dos mais de 200 milhões de brasileiros, são tomadas sem se levar em conta o que é melhor para os cidadãos.

Surge agora, em pleno caos, uma oportunidade de mudar. Haverá sensibilidade e humanidade para tal entre os líderes do país? “Eles precisam pensar nas mulheres que estão sendo afetadas. (…) A população tem expectativas. Todos temos irmãs, filhas, amigos. Todos queremos o fim dessa doença. É um momento duro para o Brasil”, afirma Aylward, sem perder o otimismo.

Se der certo contra o mosquito, quem sabe podemos aplicar a mentalidade do bem público a outros aspectos da realidade brasileira, hoje regidos pela lógica egoísta e criminosa?

No mesmo dia em que a Organização Mundial de Saúde declarava o zika vírus como um caso de emergência global, deputados e senadores se preparavam para voltar ao trabalho “em clima conflagrado”, segundo o jornal “Folha de S.Paulo” (1/2). A verdade é que o país está farto desse clima, desse bate-boca, dessa troca de acusações inócua. É perda de tempo, gera imobilismo, paga-se um preço alto por isso.

A nova doença causada pelo já familiar Aedes pode ser a responsável pela multiplicação de más-formações congênitas em toda a América Latina, sobretudo no Brasil. Uma tristeza sem fim para milhares de mães e quase mães – muitas delas adiando a gravidez ou mesmo abortando. E estes novos brasileiros que estariam nascendo com microcefalia? O que poderemos oferecer a essa geração no futuro?

Segundo a ONU, a doença avança de forma “explosiva” e pode infectar quatro milhões nas Américas. Do Oiapoque ao Chuí, para além das grávidas, milhares de trabalhadores, idosos e crianças estão de cama após terem contraído o zika. E a saúde pública está de joelhos. Já há recomendações, em vários países, para que turistas evitem viajar para o Brasil.

Enfim, os impactos da doença são múltiplos e cumulativos. Sua dimensão é ainda desconhecida, mas já se sabe que, se nada for realmente feito, seu desfecho será catastrófico.

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