China: um novo capítulo

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Segunda maior economia mundial e principal parceira comercial do Brasil, a China tem protagonizado diversas matérias jornalísticas devido à desaceleração de seu crescimento, que chamou muito a atenção do mundo nos últimos anos. O chamado slowdown da economia chinesa é causado por uma série de fatores, como a queda do preço das commodities (principalmente o aço, cuja maior produção está na China) e a redução da demanda mundial, guiadas pela desaceleração de União Europeia, Japão e Coreia do Sul.

Justamente para controlar a influência do mercado externo em sua economia, o governo chinês vem implementando um novo modelo econômico, voltado para o mercado interno. Para isso, é preciso alterar o comportamento da população, como também dar a ela ferramentas para o consumo, ou seja, dinheiro. Com este objetivo, os chineses estão expandindo o crédito no país via aumento da dívida privada. Se pararmos para analisar, a dívida do governo chinês é baixa, e em 2014 ficou abaixo dos 17% em relação ao PIB. Entretanto, a dívida privada é gigantesca, alcançando uma relação superior a 200% de dívida/PIB em 2015, já refletindo os efeitos dessa política de expansão do crédito.

De acordo com estimativa realizada pela Bloomberg, economistas projetam um pico de 283% da relação dívida/PIB após 2020. Uma das preocupações do mercado é a capacidade de pagamento por parte dos tomadores destes empréstimos e, mesmo sendo difícil de prever, muitos acreditam que parte desta dívida não será paga. A economia chinesa ainda se encontra relativamente fechada, por isso é complicado fornecer informações precisas em relação ao seu rumo.

Além disso, apesar de considerada privada, tal dívida é encabeçada por bancos do governo, que, seguindo recomendações, facilitaram o crédito, aceitando garantias duvidosas e liberando dinheiro para investimentos arriscados em infraestrutura, por exemplo. Do outro lado, os tomadores desses empréstimos são também empresas controladas pelo governo, que, em caso de incapacidade de pagamento, teriam de receber suporte do próprio. Seria como dar dinheiro para o seu devedor, para que ele te devolva quitando uma dívida. Na prática, não é bem assim que funciona e, caso chegue a esse nível, haverá um colapso na economia chinesa. Consequentemente, respingos na economia mundial.

Os otimistas acreditam que a situação não é tão grave assim, e que essa interferência é normal a fim de corrigir um desequilíbrio da economia. Alegam também que o alto nível de poupança do país ajuda no controle desse débito. Já os pessimistas acreditam que o país deve rever suas ações, encontrando outros meios para superar a desaceleração, por exemplo reduzindo a taxa de juros e buscando meios de controlar os empréstimos concedidos, evitando possíveis calotes.

Toda essa questão abriu espaço para especulações, com investidores apostando na queda do yuan, sob o argumento de que o governo terá que imprimir mais dinheiro para recapitalizar os bancos estatais. Isso baratearia as exportações e tornaria os produtos chineses mais competitivos. A corrente contrária diz que, ainda que isso aconteça, países como a Austrália estariam dispostos a desvalorizar sua moeda para reequilibrar o mercado, neutralizando o efeito da queda do yuan.

 

 

Victor Firmino: Estudante de Economia do IBMEC. Membro da área de análise macroeconômica do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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