2015: O ano da crise não revelada

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No ano passado, foi observado um movimento curioso: países pouco expressivos no cenário econômico global foram os que apresentaram os maiores crescimentos do PIB. Entre esses, podemos citar Islândia, Índia e Vietnã, onde a evolução da produção interna chegou até 7%. Por outro lado, grandes potências financeiras, com exceção da China, registraram, em sua maioria, baixa expansão da economia. Em alguns casos, como Brasil e Rússia, houve crescimento negativo, ou seja, recessão.

Os EUA, maior economia do mundo, apresentaram avanços de aproximadamente 2,5% em seus mercados. A olhar por esses resultados, podemos imaginar que 2015 foi um ano relativamente razoável economicamente falando para as nações em geral. Ao analisarmos mais a fundo os dados e desempenhos das bolsas e mercados globais no ano, veremos, no entanto, que a situação financeira do país não foi bem assim.

Segundo a rede de noticias CNN, em 2015, cerca de 70% dos investidores perderam dinheiro. Entre eles, talvez o maior gigante do mercado financeiro, Warren Buffet, teve prejuízos de mais de US$ 7 bilhões, que, somados a outros grandes investidores, como Nicholas Woodman (GoPro) e Sheldon Adelson (Las Vegas Sands Casino), chegaram à casa dos US$ 20 bilhões. Perdas monetárias tão colossais como essas não ocorrem ocasionalmente, por isso, para compreendê-las, é necessário analisarmos os fatores por trás delas.

De 2014 a 2015, o mundo assistiu a grandes quedas nos preços de alguns elementos responsáveis pela circulação de capital no mercado financeiro global. Foram eles: commodities industriais, petróleo e “junk bonds”, ou seja, títulos negociados na bolsa que embutem alto valor de risco. Também é importante ressaltar o efeito da desaceleração da economia chinesa, principal motor das economias mundiais, que foi ocasionada, principalmente, pela redução de produtividade de suas fábricas e indústrias.

Em relação ao petróleo, de 2014 – quando começou o ano cotado em torno de US$ 110 – até o fim de 2015, o preço do barril recuou mais de 60%. Essa depreciação levou a cotação do óleo, em 2015, ao menor patamar histórico, cerca de US$ 40. Tal situação se encaminhou para uma séria crise financeira, que atingiu principalmente os países exportadores do produto, como Rússia, Venezuela e Arábia Saudita.

Já no que tange às commodities em geral, as desvalorizações estão associadas à diminuição do comércio e à troca de mercadorias entre países no âmbito global. O Baltic Dry Índex, que se refere a um dos principais indicadores de crescimento econômico de países, associado à oferta e demanda de mercadorias importadas e exportadas, atingiu seu menor índice em toda a história. Tal fator evidencia uma desaceleração acentuada do comércio global, que, nos quatro primeiros meses de 2015, diminuiu 1,5% em relação ao ano anterior, explicando assim, a queda dos preços das matérias primas.

Além disso, as “junk bonds” também estão associados à brusca derrocada das economias mundiais que, com a desvalorização de outros títulos e ações, levaram a perdas drásticas nas principais bolsas de valores e indicadores financeiros. O Standard&Poor’s 500 Índex perdeu 6% de seu valor, assim como a Dow Jones Industrial Average e a Russell 2000, que tiveram seus piores anos desde 2008.

Em relação aos mercados globais, obtivemos estes resultados: 18% e 16% dos mercados de Inglaterra e Franca, na ordem, foram eliminados; 25% na Alemanha e 40% na China, cujas perdas representaram a maior queda intra-day de uma bolsa na história (na chamada ”Black Monday”). A bolsa de valores da Índia perdeu em torno de 4 mil pontos; no Brasil, foram 12 mil. Somente nos EUA, foram perdidos em torno de US$ 2 trilhões, que somados aos mercados mundiais, dá um total de perdas de US$ 11 trilhões acumulados no total.

Por aqui, tivemos uma retração no PIB de 3,8% – o pior resultado em 25 anos. A inflação passou dos 10%, e quedas acentuadas em setores como a indústria e o varejo, variaram numa faixa de 6% a 9%. A única razão pela qual o país não quebrou foram as exportações, que aumentaram 6%, alavancadas pelas oscilações cambiais, com a alta do dólar, que chegou a R$ 4, em meados de 2015, contribuindo assim para receitas mais elevadas desse setor ano passado.

De qualquer maneira, essa análise apenas sintetiza os principais pontos que levam a crer que 2015 foi um péssimo ano para os mercados de maneira geral, podendo, sim, ser caracterizado como um ano de profunda instabilidade econômica, levando a inúmeras indagações e prospecções acerca de qual será o futuro das economias mundiais e se haverá a possibilidade de enfrentarmos uma nova crise, igual ou maior que a de 2008.

 

Bernardo Leão: Estudante de Relações Internacionais do IBMEC. Membro da área de análise macroeconômica do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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