OS SEM CORAÇÃO

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Meu Facebook está quase completo! Até pouco tempo não sabia que o número máximo de “amigos”, numa das mais famosas redes sociais, é cinco mil. Mas confesso que, depois que escrevi esta frase, me lembrei dos velhos tempos de álbuns de figurinhas, rsrsrs… O fato é que, por ser professor, a cada semestre acumulo novos seguidores, o que me dá muita satisfação (e responsabilidade).

Uma ferramenta bem interessante no “Face” é aquela que permite que você visualize os comentários de pessoas que não estão no seu, ao responderem ou opinarem sobre um post de alguém que é seu “amigo”.

Recentemente, vários “amigos” postaram sobre o comportamento dos mercados, após toda essa celeuma que envolveu o presidente Temer. Com a PGR denunciando, pela primeira vez em nossa história, um presidente da República em exercício de seu mandato, era de se esperar que as bolsas, as taxas de juros e a cotação do dólar se ressentissem.

De fato, no dia 18 de maio, dia seguinte à publicação dos áudios de Joesley Batista com o presidente, o Ibovespa afundou quase 10% (para 60 mil pontos, inclusive com acionamento do circuit braker). O dólar, que no dia 17 negociava em torno de R$ 3,08, foi catapultado a R$ 3,40, e a curva de juros “empinou”. Todas as reações foram absolutamente compreensíveis. Todavia, desde então, as cotações se recuperaram bastante. No momento em que escrevo esse artigo, o Ibovespa está em 65 mil pontos, os juros futuros recuaram e a taxa de câmbio encontra-se em torno de R$ 3,20.

O que me chamou a atenção foi a onda, nesses últimos dias, de comentários em cima de posts de “amigos”, criticando que o “mercado” não se importa com “gente”, só quer lucrar. Referem-se, por óbvio, à ideia que circula de que, se Temer for substituído pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não teremos problemas, desde que a condução da economia seja feita pela atual equipe, comprometida com as reformas. Ou seja, um descolamento da economia com a política.

Essa demonização do mercado vis à vis a economia real é um tema que me encanta, sobretudo porque atinge as duas faces da “minha” moeda: Sou professor de Economia e profissional de mercado, há 30 anos. Nas aulas, procuro mostrar aos alunos os vários sistemas econômicos existentes, reforçando as vantagens e desvantagens de cada um. Nesse sentido, há um predomínio, por parte deles, de posições onde prevalece a “economia de mercado”, pois é a que (empiricamente) mais gera riqueza para o país (não necessariamente bem estar). Até aí poderia concordar com essa ideia de que “os mercados são insensíveis”.

O ponto crucial, entretanto, é compreender que economia é uma ciência social. Em outras palavras, lidamos com seres humanos, idiossincráticos por essência e repletos de desejos quase que infinitos. Como dizia meu professor de português no ensino médio: “O ser humano é um eterno insatisfeito”.

Exatamente por isso, as religiões fazem tanta diferença. Para que ter mais do que precisamos, se outro está necessitado? Vamos dividir para resolver o problema da escassez! Essa questão psico/religiosa não encontra solução em livros de Economia, pois não há UMA resposta.

É claro que todo e qualquer país consegue gerar riqueza; minimamente a produção que se extrai da natureza. Todavia, há certo consenso (a queda do Muro de Berlim e a primavera árabe são ótimos exemplos) indicando que a economia baseada nas livres relações entre agentes econômicos, a chamada “economia de mercado”, malgrado muitas imperfeições, ao menos consegue gerar uma maior quantidade de riqueza, que poderá ser distribuída. Sob essa ótica, o que precisamos, de fato, é compartilhá-la com a sociedade, para que as pessoas sejam atendidas em suas necessidades básicas, como saúde, educação, transporte e segurança. O problema, no entanto, é como fazer?

Fica evidente, aqui, que a participação do Estado é o ponto central dessa discussão, mesmo nas chamadas “economia de mercado” (a China comunista, afinal, detém tal título). A pergunta que faz a diferença é esta: O Estado deve ser “ativo” ou apenas um “juiz” para regular?

Aqui retorno aos posts daqueles que advogam a tese de que “os mercados não tem coração”. O chato é que muitos confundem “mercados” com “manipulação e jogo”, e não como um conjunto de agentes econômicos que querem o melhor pra si e, consequentemente, para a sociedade.

Para esse fim, os “mercados” preferem economias “livres”, onde os governos não pleiteiam, para si, o protagonismo. Eles apenas regulam as atividades empresariais, de modo que não haja excessos e possibilidade de concentração, que geram externalidades negativas. Nesse sentido, faz algum tempo que surgiu o conceito de agências reguladoras, adotado em nosso país.

O que temos, no Brasil, neste momento, é uma inflexão. Nos governos Lula e Dilma, o Estado foi ativo, mais do que regulador. Com o impeachment da presidente, Temer colocou na condução da economia uma equipe afinada com a alternativa oposta, daí as propostas de reformas em tela.

As reformas, a meu juízo, não são prejudiciais para os mais carentes. Pretendem tornar o Estado mais enxuto, que caiba dentro da capacidade tributária já elevada, para que o orçamento possa voltar a ser, minimamente, equilibrado. Se assim for, os empresários produzirão “desejos e (algumas) necessidades”, enquanto ele, Estado, produzirá somente “necessidades”. Todos ganham!

Sou contra novas elevações de impostos (alternativa às reformas). É preciso enxugar a máquina pública e não reduzir a renda disponível da sociedade via elevação de tributos. Quem será o condutor dessa tarefa? Qual partido político estará no poder? As respostas são pouco relevantes, desde que a direção seja essa, agora, apontada.

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