O que os unicórnios nos ensinam sobre a previdência no Brasil

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Os economistas poderiam ter se dedicado a estudar os unicórnios nas últimas décadas, afirmou no ano passado à National Public Radio o Prêmio Nobel de Economia de 2017, Richard Thaler. A ironia do economista é, na verdade, uma forte crítica a uma das premissas básicas da Economia: a de que os homens, na tomada de decisão econômica, agem como seres racionais, controlados, sensatos. Ao negar esta “verdade” secular e mostrar que as pessoas são “previsivelmente irracionais”, motivadas por estresse ou emoções variadas, Thaler faturou US$ 1,1 milhão e o reconhecimento máximo da Academia Sueca de Ciências.

Quem já aceitou pagar juros altíssimos para comprar um aparelho eletrônico qualquer simplesmente porque a prestação “cabe no bolso” não terá dificuldades em entender a lógica do Nobel. Decisões assim passam longe do fictício “homem econômico”. São típicas daquele alguém que “precisa urgente” do último modelo do smartphone, mesmo com o seu aparelho atual em perfeito estado, mesmo sem emprego fixo, mesmo sem saber usar as novas funcionalidades… E por aí vai.

Mas atire a primeira pedra “quem nunca” foi esse alguém! Somos todos, em algum momento, deliciosamente irracionais.

Da teoria de Thaler deriva que os agentes econômicos precisam de um “empurrãozinho” para agirem de modo mais racional, no intuito de garantir seu próprio bem estar e o bem estar da sociedade.

Investir num fundo de previdência exemplifica bem os aspectos dessa visão econômica comportamental. Não é fácil pensar em guardar dinheiro aos 20 ou 30 anos para resgatar os recursos com 75 ou 80 anos. Por que ter mais renda e qualidade de vida na aposentadoria se a vida está aí, agora, com seus objetos de consumo, viagens, festas e prazeres? “Depois a gente vê isso…”. Embora investir seja o mais racional a se fazer, sobretudo num país como o Brasil em que a Reforma da Previdência está na pauta do dia, a maioria das pessoas que pode poupar se encaixa perfeitamente na tese de Thaler.

Desta forma, uma das maneiras eficientes de se preparar para o futuro é com um “empurrãozinho”. Como, por exemplo, debitar automaticamente contribuições mensais do seu salário para investir num fundo de previdência. Sim, o longo prazo é logo ali. Uma boa educação financeira ensina que primeiro devemos separar um percentual do nosso ganho habitual para os investimentos. Só depois de guardar essa parcela, devemos gastar o excedente. Muitos, no entanto, fazem o oposto: consomem e, depois, “se der, talvez, quem sabe”, aplicam uma sobrinha. E isso independe da faixa de renda.

Racional na irracionalidade, Thaler, aos 72 anos, provavelmente fez, lá atrás, um plano para sua aposentadoria. Ao ser premiado, foi perguntado como gastaria a soma de US$ 1,1 milhão que recebeu por seu trabalho inovador. Respondeu, coerentemente, que o faria da forma mais irracional possível. Brincadeiras à parte, se você não ganhou nem o Nobel nem na Mega Sena, talvez esteja na hora de ganhar um empurrãozinho e se obrigar a começar a investir.  Afinal de contas, não somos unicórnios.

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