FED, juros, volatilidade e oportunidades

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Um dos mais importantes conceitos em Economia é o de elasticidade. Explicando para um leigo, é uma forma de mensurarmos a sensibilidade de uma variável, dado que outra, relacionada àquela, é alterada. Tais variações dependem de inúmeros fatores, como a essencialidade de um bem ou serviço, se há substitutos no consumo etc. Matematicamente, a elasticidade pode ser medida pela derivada.

Se pretendermos aplicar o conceito ao nosso cotidiano, aproveitando o momento futebolístico, um exemplo seria o quanto uma mudança no preço (para cima ou para baixo) no ingresso de uma partida de futebol no Maracanã afetaria a quantidade de ingressos vendidos. Se a variação do preço for para cima, a quantidade de ingressos vendidos cairá. Se a queda nas vendas for muito maior percentualmente do que o aumento no preço, dizemos que a demanda por ingressos, nesse caso, é elástica. Do contrário, chamaremos de inelástica.

Mercados financeiros, nos dias presentes, são muito elásticos. Com a facilidade de difusão das notícias, praticamente em tempo real, e (mais que isso) uma presença maciça dos grandes investidores “operando” em vários países, há enorme sensibilidade nas reações dos ativos (para cima ou para baixo), dado um acontecimento, que pode ser econômico ou (geo)político. Por conta dessa realidade inexorável, precisamos estabelecer cenários possíveis, para mitigarmos os efeitos dessas reações em nossos investimentos.

Faz poucos dias, o banco central dos EUA (FED) elevou pela segunda vez este ano a taxa de juro da sua economia. A decisão já era esperada, assim como uma terceira elevação estava contemplada pelos analistas de mercado. O preocupante é que, agora, há uma quarta alta aventada pelos membros do FOMC e que era majoritariamente descartada até o fim do ano passado, antes da mudança na sua diretoria.

Tomo a liberdade de reproduzir, abaixo, o último parágrafo (página 8) do nosso e-book de investimentos para 2018, escrito em dezembro. “Outro ponto de monitoramento importante para 2018, esse externo, será a mudança no comando do Fed (o banco central americano), a partir de fevereiro. Uma eventual nova política monetária no mundo desenvolvido, mais restritiva, pode estimular um retorno dos capitais internacionais para os EUA e suscitar uma realização nas bolsas americanas, que em 2017 bateram vários recordes de alta. Podemos observar, da mesma forma, uma realização mais pronunciada no mercado de bonds, o que merece atenção. Nesse cenário mais adverso de liquidez global, países emergentes acabam sendo diretamente penalizados: mais um provável risco no radar dos investidores.”

Como pode-se observar, já havíamos antecipado essa hipótese de uma “mexida” mais contundente na política do FED em nosso cenário, e os possíveis efeitos sobre os emergentes.

Fazendo o “link” entre o início do texto e o FED, o fluxo de capitais no mundo é extremamente elástico à política monetária americana. Outrossim, as moedas dos emergentes se ressentem (todas). O ponto aqui é que umas são mais elásticas do que outras, e isso está relacionado à situação de vulnerabilidade fiscal do país. Nesse quesito, como é de conhecimento geral, estamos devendo.

O problema é que o FED vem despejando liquidez na economia desde a crise de 2008, através de seu maciço programa de compra de títulos, conhecido como quantitative easing. Segundo os especialistas, o BC americano ainda detém mais de U$ 3 trilhões desses em carteira. Como o FED está elevando o juro e reduzindo o balanço de títulos, tais movimentos geram volatilidade nos ativos, como ações e bonds, com eventuais efeitos deletérios sobre os mercados globais, destacadamente os países emergentes.

E temos as incertezas domésticas. Em outubro, teremos eleições para presidente em nosso país, e a questão fiscal será o grande assunto no front econômico. Os candidatos precisarão se manifestar de forma contundente sobre como agirão para debelar o déficit crescente e estabilizar a relação dívida sobre PIB. Sem isso, a taxa de câmbio parará de refletir o balanço de pagamentos (que se encontra, por ora, em situação confortável) e passará a ser “regida” pelo temor dos investidores quanto à possibilidade de um eventual default de nossos compromissos, com prováveis reflexos adversos sobre a inflação e o crescimento.

Por fim, na nossa vida, quando algo não tem importância significativa, usamos a expressão “não fede, nem cheira”. Não é o caso do que vivemos no estágio atual da economia global. Os mercados estão mais tensos nos últimos dias, por conta do FED, e a volatilidade que prevíamos desde o final do ano passado chegou para ficar. É preciso cautela e uma boa dose de sangue frio nessas horas. Exageros, para cima e para baixo, são comuns no dia a dia dos mercados e devem ser vistos como eventuais oportunidades.

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