Greve dos Caminhoneiros: Veja os impactos na economia

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Desde que o atual presidente da República, Michel Temer, chegou ao poder, o país vem demonstrando sinais de recuperação, nesse período pós-recessão. É verdade que a melhora se apresenta de forma muito lenta, porém há, de fato, uma luz no fim do túnel para a nossa economia. A partir do momento em que o governo conseguiu controlar a inflação e também sugeriu medidas a fim de enxugar os gastos do Estado, o mercado passou a ver Temer com bons olhos, porque essas mudanças (que mais tarde não se concretizaram) seriam cruciais para a retomada do crescimento.

        Outro motivo para tal expectativa foi a nomeação de Pedro Parente, em 2016, para assumir a Petrobras. Com ele, já no ano de 2017, mudou a política de preços adotada pela empresa, seguindo assim o mercado internacional. Parente adotou essa medida para fazer receita, pagando dívidas e corrigindo alguns dos erros cometidos na era Dilma.

        Entretanto, com os preços da gasolina e do diesel (principais produtos da Petrobras consumidos pela população brasileira) acompanhando o mercado internacional, houve constantes variações em seus preços finais. Em uma semana, aumentava 3%, na outra diminuía 2%, e o brasileiro não estava acostumado com tamanha variação em um curto espaço de tempo.

        Já mais para o início deste ano, dois acontecimentos prejudicaram demais tal política de preços adotada por Pedro Parente. Tanto o aumento da taxa de juros norte-americana (devido ao aumento dessa taxa, há uma fuga de dólares do Brasil, proporcionando uma “escassez” da moeda e valorizando-a frente ao real) quanto o aumento da cotação do barril de petróleo no mundo fizeram com que os preços da gasolina e do diesel subissem cada vez mais aqui.

        Um dos mais prejudicados por esses aumentos foram os caminhoneiros, que desde 2017 vinham tentando negociar com o governo, sem sucesso, um corte de impostos (Pis/Cofins) no diesel. Por serem altamente dependentes do combustível em questão, resolveram começar um protesto. No dia 21 de maio de 2018, iniciaram-se os primeiros bloqueios em diversas estradas brasileiras, sendo a Rodovia Régis Bittencourt (conecta São Paulo ao estado do Paraná) o símbolo desse movimento.

        As principais reivindicações são: queda no preço do óleo diesel, isenção do pagamento de pedágio dos eixos que estiverem suspensos (quando o caminhão está vazio e passa a rodar com um dos eixos fora do chão), adoção de política de preços mínimos para fretes e criação de um marco regulatório para os caminhoneiros.

        No dia seguinte, fábricas já começaram a ser afetadas pelo não recebimento de produtos, e ocorreu um efeito dominó. Todos os setores da indústria e do comércio apresentaram dificuldades para continuar com suas operações. Outros setores, como o de transportes e até o educacional, tiveram problemas graves.

        Devido às paralisações, matérias-primas e produtos não chegaram aos seus respectivos locais, ocorrendo uma escassez no mercado. E quando há demanda constante e uma diminuição grande na oferta, há um inflacionamento dos preços. Preços de diversos produtos básicos do dia a dia do cidadão brasileiro sofreram altas. Entre os mais afetados, justamente o diesel e a gasolina, por causa de sua importância para toda a economia. A greve serviu para mostrar como o país é altamente dependente do sistema rodoviário e, consequentemente, de combustíveis fósseis.

        O mercado financeiro reagiu de maneira negativa nesse período de paralisação. As ações da Petrobras (PETR4) despencaram. No dia 21 de maio (início do movimento), o papel fechou em R$ 25. Caiu para R$ 14,50 no dia 18 de junho, uma desvalorização de 42%, o que ocasionou perdas de mais de R$ 115 bilhões em valor de mercado. O IBOV, nesse mesmo período, caiu de 81.815,31 pontos para 69.814,73 pontos, a mínima desde agosto de 2017.

        Todo esse caos deixou uma desconfiança maior dos estrangeiros e dos próprios brasileiros em relação ao governo de Michel Temer. A saúde econômica do país é dependente de uma perspectiva para o futuro, e a incerteza sofrida no cenário político e econômico de nada ajuda. A expectativa de crescimento do PIB no segundo trimestre já foi reduzida, de 0,8% para 0,2%. Vale lembrar que, no primeiro trimestre, o crescimento foi de 0,6%. A expectativa para o crescimento do PIB anual passou de 2,5% para 1,76% (estimativa feita pela Órama Investimentos), uma vez que a corrida eleitoral para a Presidência também dificulta projeções positivas.

        A greve chegou ao fim 11 dias após seu início. Temer decidiu acatar as exigências dos caminhoneiros, congelando o preço do diesel por 60 dias, reduzindo o seu preço nas refinarias em R$ 0,46 e zerando os impostos incididos sobre ele (Pis-Cofins e CIDE). Retirou também a necessidade de pagamento de pedágio dos caminhões com eixos que estiverem suspensos. Com as rodovias voltando ao normal, o abastecimento de produtos foi sendo normalizado gradativamente.

        Apesar de muitos considerarem o problema como resolvido, é preciso analisar as expectativas para o futuro. A história nos ensina que o congelamento de preços não soluciona o problema e ainda pode piorá-lo no médio/longo prazo. Muitos economistas argumentam que, com o fim desse congelamento, o preço do diesel voltará a aumentar, possibilitando chegar até a um nível maior do que visto anteriormente. Outro ponto importante a se destacar é sobre a redução de impostos. Quando o Estado diminui a sua receita, para manter estável o seu balanço, ou ele corta gastos ou ele tenta achar outra maneira de aumentar a receita. E é exatamente essa segunda opção que o governo provavelmente irá fazer. Eduardo Guardia, atual Ministro da Fazenda, não descarta um aumento de tributos a fim de compensar os subsídios dados aos caminhoneiros.

        Conclui-se que o problema foi “resolvido” no curto prazo, como se Temer estivesse jogando a sujeira para debaixo do tapete, trazendo a expectativa de que o próximo presidente terá que enfrentar o mesmo problema, talvez até agravado. É de se notar o que já estava claro há muito tempo: o Estado é inchado e é difícil implementar mudanças. A real solução está na reforma do sistema, acabando de vez com privilégios e toda a burocracia estatal. Porém, não sabemos quem vai assumir esse compromisso com o país. 

GabrielSoaresGabriel Soares 

Membro da área Análise Macroeconômica do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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3 Comentários

  1. Parabéns Gabriel pela matéria. Estou muito feliz por vc e seus pais.E de pessoas como vc que estamos precisando.

  2. Bacana sua visão deste episódio.
    Espero que futuramente tenhamos novas matrizes de transporte, e não só, mas também politicos comprometidos com boas práticas socioeconômicas, e que não façam de nossas estatais balcão de negócios pessoais, loteando cargos em troca de apoio politico (financeiro) em detrimento de uma gestão independente e técnica.
    As eleições estão a porta, vamos torcer para que tenhamos algo NOVO na gestão deste país.

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