O Var da Copa e dos fundos

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Na Copa do Mundo Fifa 2018, na Rússia, foi implementado, pela primeira vez, o chamado árbitro de vídeo, cuja sigla oficial é VAR. A despeito do uso da tecnologia ser uma demanda antiga dos futebolistas, o auxílio eletrônico está longe de ser unanimidade, pois vem gerando questionamentos sobre seu uso e decisões.

O mês de junho de 2018 está sendo bom para o futebol, mas não tanto para a indústria de fundos de investimentos. Com más notícias pipocando, tanto domésticas quanto externas, as rentabilidades de alguns fundos ficaram prejudicadas. Os dados consolidados da ANBIMA mostram que os saques (dados até dia 22 de junho) nas diversas classes de fundos atingiram um valor superior a R$ 20 bilhões. É um número que merece uma reflexão, pois os mais inexperientes acabam se sentindo estimulados a resgatarem suas aplicações, pelo medo de maiores perdas à frente.

Em praticamente todos os meus textos educacionais, aqui, questiono o porquê de nossos ensinos fundamental e médio não incluírem disciplinas obrigatórias relacionadas a Economia ou finanças pessoais no currículo básico. Por esse motivo, o entendimento mais apurado do processo de formação de poupança é prejudicado, e a juventude só vai se preocupar em poupar quando o tempo já “corroeu” parte significativa do período onde os recursos poderiam ser capitalizados.

De qualquer forma, a indústria de fundos de investimentos evoluiu exponencialmente ao longo das últimas duas décadas em nosso país. Mesmo num momento adverso como o atual, se avaliarmos uma janela de 12 meses, há captação expressiva de R$ 160 bilhões.

Grande parte do crescimento verificado mais recentemente deveu-se a empresas como a Órama, que vieram oferecer propostas de democratização e acesso a bons gestores de fundos. São fundos selecionados. Lembremo-nos que, não faz muito tempo, grande parte dos investimentos acessíveis às classes de renda mais baixas estava restrita à caderneta de poupança ou a fundos patrocinados pelos grandes bancos.

O problema é que, diante de tantas opções, o investidor sem informação, aquele que chamamos de “leigo”, encontra dificuldades na hora de decidir onde alocar seu dinheiro, pois não conhece/domina as ferramentas de avaliação de desempenho dos gestores de fundos.

Em relação a esse quesito, a teoria de Finanças criou uma série de métricas que nos ajudam a escolher por qual optar, dentro do nosso perfil de risco. A maior parte delas, contudo, assume que a média e a variância da série histórica dos retornos são suficientes para descrever (por completo) o potencial investimento. O ponto importante aqui é que nem todas as séries de retornos são “comportadas”, ou seja, possuem uma distribuição normal de probabilidade, onde a média e a variância explicam grande parte do que se pretende avaliar.

Nesse sentido, há um famoso indicador, conhecido como Índice de Sharpe (IS), que dimensiona o retorno excedente de um fundo, comparativamente ao seu benchmark, relacionando-o com o risco assumido pelo gestor para entregar tal retorno. Assim, quanto maior o indicador melhor é a gestão do fundo, assumindo classes de ativos semelhantes. Para exemplificar, no caso brasileiro, o principal benchmark para comparação de fundos de renda fixa e multimercados é o CDI. Desse modo, se um fundo obtiver retorno anual de 10%, com risco de 2% a.a. e o CDI for 8% a.a., seu IS será (10% – 8%) / 2% = 1.

Outro aspecto relevante quando decidimos investir num fundo é analisar o histórico do gestor, para entender se a gestão dele é adequada ao perfil de risco que se almeja. Em outras palavras, é preciso compreender que, ao aplicarmos nosso dinheiro junto a um gestor, estamos concedendo a ele uma espécie de mandato. Sob essa ótica, o mesmo lhe apresenta um elenco de parâmetros que procura utilizar na administração dos recursos, dado um certo nível de confiança de acerto. Para tal objetivo, em todas as assets há uma área importante conhecida como “gestão de risco”.

Para a gestão do risco, os financistas normalmente se utilizam de uma ferramenta conhecida como VaR (Value at Risk), além do CVaR (conditional Value at Risk). O VaR é uma ferramenta desenvolvida pelo banco JP Morgan e que pretende apontar que, para condições “normais” de mercado, existe uma chance de y% de uma carteira de investimentos perder x%. Exemplificando, se um fundo possui VaR(95%;2%), significa que há um “risco” de em 5% (100% – 95%) das situações a rentabilidade observada ser uma perda superior a 2%.

Apesar de mundialmente adotada, a utilização do VaR é criticada por estudiosos respeitáveis, como Acerbi, Tasche e Artzner, por (entre outras razões) negligenciar o potencial de ganho de um gestor, à medida que o VaR se restringe à perda, além da própria questão da normalidade da distribuição dos retornos. No entanto, tais críticas não inviabilizam o uso da ferramenta, que funciona com grande aceitação em nosso mercado. Em minha opinião, no entanto, o principal problema do VaR é o desconhecimento do mesmo por parte dos investidores leigos, o que o torna inócuo como instrumento eficaz de ajuda na hora de decidir por esse ou aquele fundo.

Para finalizar, em 2002 Keating e Shadwick apresentaram uma nova medida, conhecida como Ômega. Nela, procura-se sair da suposição de que as distribuições são normais, fornecendo informações mais completas sobre o risco-retorno. Tenho conversado com alguns professores sobre essa estatística, bem como gestores que passaram a considera-lá como métrica complementar. Vale uma lida aos que se interessarem em: Keating & Shadwick. “A Universal Performance Measure” (PDF). The Finance Development Centre Limited. UK.

 

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