Eleições 2018: o efeito-centrão

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A aproximação do prazo para definir candidatos e coligações traz a público notícias mais relevantes, que vão dando forma para a disputa presidencial de outubro deste ano. A notícia mais relevante até agora seria a provável aliança entre o pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB) e o “centrão”, nome dado para o bloco de partidos formado por DEM, PP, PR PRB e SD. Mesmo gerando reações favoráveis no mercado de ações e aumentando a visibilidade do presidenciável, essa aliança pode trazer de volta fantasmas que sondam o ex-governador de São Paulo e ex-presidente do PSDB. Ou pode, simplesmente, não ser o suficiente para alavancar sua candidatura, já que é o quarto candidato em intenções de voto pela última pesquisa do IBOPE, em cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O acordo entre o bloco de partidos e o pré-candidato à Presidência pelo PSDB é quase certo. Outros pré-candidatos também foram sondados, como Marina Silva (REDE), que procurou o DEM após este declarar que não entraria com candidato próprio na eleição presidencial. E Ciro Gomes (PDT), que se aproximou mais do bloco pelo partido Solidariedade. Entretanto, na visão do bloco, Marina seria uma figura omissa,  e Ciro, polêmica. Assim, näo houve acordos. Entäo, restou ao “centrão” optar por Alckmin, cujo partido é tido como aliado de longa data por natureza conservadora e alinhada aos interesses do bloco. Para o tucano, ainda resta fechar com um vice-presidente. O favorito para a posição seria Josué Alencar (PR), filho de José Alencar, vice de Lula. Alvo também do PT para vice, Josué Alencar estaria mais favorável ao tucano, devido à posição do seu próprio partido em relação ao pré-candidato.

Esse alinhamento traz mudanças principalmente quando se trata da propaganda eleitoral gratuita, transmitida pela televisão e pelo rádio. O tempo dessa propaganda é distribuído de forma proporcional ao número de deputados eleitos em 2014. Com a coligação, o tucano teria maior tempo de propaganda entre todos os nomes até agora, superando em quase três vezes os 88 segundos que o PT teria individualmente, o maior tempo individual por partido. A TV, como a maioria dos analistas apontam, ainda é o veículo mais importante para a divulgação de uma candidatura. Segundo uma pesquisa de audiência conduzida por Maurício Moura, consultor do Valor, houve forte queda na parcela da população que assiste à propaganda eleitoral gratuita, sendo que em 2014 apenas 6% dos entrevistados declararam ter assistido.

Apesar disso, a televisão e o rádio seriam importantes instrumentos de divulgação para Alckmin, principalmente contra concorrentes como Ciro Gomes, Jair Bolsonaro e Marina Silva. Contudo, a maior concorrência deve ser na internet, através principalmente das redes sociais, onde o pré-candidato Jair Bolsonaro já afirmou que vai apostar, justamente porque terá pouco tempo de propaganda pela televisão. A estratégia também deve ser usada por outros candidatos.

A opinião da população antes das notícias da aliança não era favorável ao tucano. Levantamentos do IBOPE mostram Alckmin apenas em quarto lugar, com 1% das intenções espontâneas de voto, atrás de Bolsonaro, que veio em uma forte crescente desde 2016, culminando na liderança dividida tecnicamente com Marina e seguido por Ciro Gomes, em um cenário sem Lula. Ainda não é clara qual será a  reação da população à aliança, mas certamente o tempo extra de propaganda dará mais chances para Alckmin.

Entretanto, nem tudo lhe é positivo nesse movimento. Políticos do “centrão” são acusados de corrupção, enquanto o próprio PSDB já teve problemas similares com o indiciamento de Aécio Neves pela Operação Lava-Jato. São assuntos que dificilmente passarão em branco nos debates e entrevistas com a presença de Alckmin, pois especula-se que um dos principais fatores para a liderança na intenção de votos de Bolsonaro e Marina seria a forte postura contra a corrupção.

Através da ótica do mercado, a reação foi claramente positiva. Quando a notícia foi publicada, o Ibovespa fechou em alta e o dólar, em baixa. Esse movimento condiz com o esperado, que é a visão positiva do investidor ao fortalecimento de candidatos que propõem crescimento do país com o balanceamento das contas do governo, através de reformas e também de privatizações de algumas estatais.

A notícia da aliança dará “corpo” para as eleições. Alckmin, que já se mostrou um dos favoritos do mercado para o cargo, deve ganhar força na corrida presidencial, através de maior visibilidade e deve modificar a atual conjuntura de preferências do eleitor. Com o fracasso em se aliar ao “centrão”, Ciro deve se aproximar da esquerda, enquanto Marina e Bolsonaro, que até então seguiam na frente, podem ver o concorrente ganhar preferência entre o eleitorado. O resultado final desse acordo vai depender também de como o tucano lidará com as questões sobre os casos de corrupção ligados ao seu partido e a seus aliados.

 

PedroCarneiro

Pedro Carneiro

Membro de Mesa de Operações do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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