Venezuela: uma nação em crise

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Venezuela, uma nação que vem enfrentando fortes crises políticas e econômicas, as quais vêm se agravando desde 2015, agora enfrenta um novo capítulo que acentua ainda mais o caos político no país. O episódio teve seu ponto de partida após Nicolás Maduro assumir seu segundo mandato no dia 10 de janeiro deste ano. A oposição venezuelana e considerável parte da comunidade internacional alegam que a eleição, em maio de 2018, foi marcada por fraudes, além de contar com a ausência de mais da metade dos eleitores, de forma a tornar o mandato de Maduro ilegítimo.

Dessa forma, o líder da oposição, Juan Guaidó, com apenas 35 anos, se declarou presidente interino da Venezuela e conta com o reconhecimento de diversos países latino americanos e dos Estados Unidos. Guaidó defende que, de acordo com a Constituição venezuelana, na ausência de um governo legítimo, o poder deve ser exercido pelo presidente da Assembleia Nacional – assumida por ele – até que sejam realizadas novas eleições.

O país que em 2017, registrou uma inflação acima dos 1.000.000% ao ano, com sérias ineficiências nos estoques de alimentos e remédios, uma taxa de crescimento do PIB decrescente (-16,6%), taxa de juros acima dos 20% e obteve um aumento substancial do desemprego no país, acabou por gerar a emigração de cerca de 3 milhões de venezuelanos. Dentre estes, mais de 30 mil chegaram no Brasil desde 2015 para estabelecer refúgio da crise de abastecimento e econômica da Venezuela, sendo que aproximadamente 10 mil cruzaram a fronteira somente nos seis primeiros meses de 2018. A principal porta de entrada dos venezuelanos acaba sendo a cidade de Pacaraima, em Roraima.

Entretanto, no que tange a crise política mais atual, é crível afirmar que não somente o país está dividido em posicionamentos quanto a Guaidó e Maduro, como o mundo afora, especialmente aos principais parceiros comerciais da Venezuela. Sendo assim, pode-se destacar apoio a Maduro por grupos de venezuelanos “chavistas”, as Forças Armadas e a Suprema Corte da Venezuela, além de países como Rússia, China, Turquia, Cuba e Bolívia. Destaque de apoio a Maduro também para a petroleira estatal venezuelana PDVSA, responsável pela maior parte das receitas de exportação do país. “Nós não temos nenhum outro presidente”, disse o presidente da PDVSA (Petróleos da Venezuela) e ministro do Petróleo, Manuel Quevedo.

Por outro lado, países como Estados Unidos, Brasil, Colômbia e Argentina também reconheceram Guaidó como presidente legítimo da Venezuela. Enquanto França e Reino Unido expressaram seu apoio ao mesmo. A Comissão Europeia pediu novas eleições, além de que as autoridades venezuelanas respeitem os “direitos civis, liberdade e segurança” do líder da oposição para que o povo possa determinar o seu futuro, porém se recusaram a reconhecer explicitamente Guaidó como presidente.

Em maio de 2018, perante a reeleição de Maduro para a presidência, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva limitando o envolvimento de cidadãos norte-americanos em negociações de títulos de dívida da Venezuela e de outros ativos, que englobam bens relacionados ao petróleo e a outras áreas do governo venezuelano, alegando que deve-se realizar eleições livres e justas, além de acabar com a repressão e privação econômica do povo venezuelano. Em sequência, pouco antes da posse de Maduro (10 de janeiro), os EUA anunciaram novas sanções contra o país novamente. Desta vez, as imposições visam um esquema de rede de câmbio venezuelano que teria desviado bilhões de dólares para funcionários do governo de Maduro. Os alvos são 7 indivíduos e 23 organizações.

O governo americano alega que o esquema de corrupção envolvia casas de câmbio autorizadas pelo governo, que venderam dólares por bolívares em mercados paralelos a uma taxa de câmbio acima da taxa oficial. E desta maneira, o lucro obtido pela diferença foi ocultado em contas bancárias e investimentos nos EUA e na Europa. Sendo assim, o presidente Maduro, no cargo desde 2013, acabou por romper as relações com os EUA após o ocorrido.

Como de praxe, as movimentações políticas dos Estados Unidos tendem a impactar no cenário econômico mundial. Neste caso, com apoio total ao líder da oposição, Juan Guaidó, como presidente legítimo, as expectativas dos investidores melhoraram quanto a uma eventual reviravolta na situação – apesar de complicada – da Venezuela. Os títulos em dólar de dívida venezuelanos e da estatal PDVSA ampliaram ganhos na última quinta-feira (24), logo após a notificação do apoio a Guaidó por Trump.

Além da alta nos títulos, os preços do petróleo também aumentaram na última semana, mediante o receio com o abastecimento vinculado à Venezuela – o que geraria um aperto na oferta -, grande exportadora do óleo que detém a presidência rotativa da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) deste ano. Portanto, em meio ao drama político e protestos de rua de ambos os lados, ainda deverá haver mais movimentações significativas no mercado de petróleo ao longo desta semana por conta de divulgações de dados semanais sobre os estoques de petróleo estadunidenses.

Neste sábado (26), o Conselho de Segurança da ONU, marcou uma reunião de emergência para debater a questão da legitimidade do mandato de Maduro, a qual foi marcada pela divisão de posicionamentos. Deve-se ressaltar que, o Conselho é formado por cinco membros permanentes, com poder de veto às propostas apresentadas. Entre eles, EUA e dois aliados de Maduro: China e Rússia. Os outros dois membros: Reino Unido e França, deram um prazo de oito dias para Maduro iniciar um processo de novas eleições. Desta maneira, o panorama da Venezuela ainda é incerto e se faz por necessário o acompanhamento dos próximos passos deste episódio para, finalmente, consolidar o resultado desta crise política e seus eventuais impactos.

 

JorgeLucasMarquesJorge Lucas Marques 

Diretor de projetos e comercial do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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