ENTREVISTA COM HENRIQUE BREDDA, GESTOR DO FUNDO ALASKA BLACK

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Entrevista realizada em fevereiro de 2019:

Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama, fez algumas perguntas para o Henrique Bredda, gestor do Alaska Black, sobre o desempenho do fundo em 2018 e sobre os planos e estratégias para 2019. Quem acompanha o mercado de ações, certamente já ouviu falar do Alaska Black, que é considerado um dos fundos com melhor desempenho do mercado. O gestor também falou do ciclo das commodities e sobre as ações da Vale após a tragédia de Brumadinho.

Sandra: Como foi a gestão do portfólio de ações do Alaska Black durante 2018 e como está nesse início de 2019?

Henrique: A gestão do portfólio de ações ano passado foi feita de acordo com nosso processo de investimentos. Incluímos apenas 2 novos investimentos na carteira, Ambev e Kroton, após as duas empresas chegarem em preços que consideramos atrativos em relação às outras oportunidades da bolsa.

O ano foi de muita volatilidade e aproveitamos para fazer ajustes em posições conforme oportunidades apareciam. Um exemplo de movimento desse tipo ocorreu durante a forte desvalorização das ações da Petrobrás em Maio, causada pela greve dos caminhoneiros e agravada pela saída do presidente da companhia Pedro Parente. Na ocasião aproveitamos o movimento do mercado para aumentarmos a posição de 9% para 15%, voltando a reduzir a exposição conforme as ações voltaram a seus patamares anteriores.

Sandra: Como foi a gestão das estratégias macro do Alaska Black durante 2018 e como está nesse início de 2019?

Henrique: Mantivemos nossa estratégia de venda de dólares contra o real durante todo o ano. Iniciamos o ano com posição direcional vendida em juros e uma posição de inclinação comprada. Ao longo do ano diminuímos o tamanho da posição direcional e terminamos o ano com ela muito próxima da neutralidade. Hoje o fundo conta com uma posição comprada em inclinação como principal posição de juros.

Sandra: Conforme a filosofia da Alaska, a performance do mercado de ações não depende do PIB, não depende dos políticos, nem do mercado acionário americano. Depende do ciclo das commodities. Em que momento estamos neste ciclo?

Henrique: Nossa tese de investimentos se baseia na ideia de que o ciclo de commodities prevalece sobre os fatores supracitados e nos dá a segurança para investirmos visando o longo prazo. No entanto, sabemos que os mercados podem reagir no curto prazo aos ruídos políticos ou fatores externos, porém não tentamos prever ou capturar nenhum desses movimentos em nosso processo de investimento.

Olhando para os movimentos cíclicos anteriores da bolsa em dólares podemos ter uma ideia de que estamos relativamente no começo do movimento atual. De 2002 a 2007 a bolsa em dólares passou de 2 mil para 44 mil pontos, uma alta de 22x em dólares, e condizente com os movimentos ocorridos nas décadas anteriores. A bolsa atingiu seu mínimo recente em dólares no ano de 2016, quando foi a 9 mil pontos. Hoje estamos num patamar de 25 mil pontos, que representa uma valorização de cerca de 2,8x, bastante inferior aos movimentos vistos nos ciclos anteriores.

Sandra: Quais são as empresas selecionados para este ciclo?

Henrique: O impacto das commodities na bolsa não se limita somente às empresas envolvidas diretamente com elas, como podemos ver na performance dos ativos brasileiros durante o último ciclo de alta de 2002-2007. A nossa visão de commodities nos dá maior segurança para alocar recursos nos ativos locais (tanto bolsa como a moeda), e a seleção de companhias específicas depende da análise micro que faz parte do nosso processo de investimentos.

A primeira etapa de nossa análise de ações é eliminar, entre todas as empresas listadas na bolsa, as companhias com limitações de liquidez e que não satisfazem requisitos mínimos de governança corporativa.

As empresas que passam no primeiro filtro são submetidas a uma segunda análise, responsável por definir a Taxa Interna de Retorno Requerida (TIR Requerida) para cada uma delas. Para tal, atribuímos notas 0 (vetado), 1, 2 ou 3 para uma série de fatores, objetivos ou subjetivos, e chegamos a uma nota para cada empresa.

Quanto maior a nota, menor o prêmio que exigimos para a companhia, e, portanto, menor a Taxa Requerida de Retorno. Utilizamos como base para a TIR Requerida um título público pré-fixado de vencimento de médio prazo (5 anos), sobre o qual somamos o prêmio calculado anteriormente.

Elaboramos modelos financeiros para as companhias aprovadas, com premissas próprias da equipe de análise. A modelagem tem como objetivo principal o cálculo da geração de caixa de cada companhia, que utilizamos para o cálculo da TIR Implícita pelo modelo.

O portfólio do fundo será composto por companhias que apresentarem a melhor relação de risco retorno, que será medida através do prêmio obtido ao subtrairmos a TIR Requerida da TIR Implícita de cada companhia.

Sandra: O fundo Alaska Black BDR Nível I está com alguma posição em BDR?

Henrique: Não. Acreditamos que há mais valor nas empresas da bolsa brasileira do que nas BDRs..

Sandra: Como está a alocação do fundo Alaska Black BDR Nível I em termos de capitalização das empresas?

Henrique: Apenas aproximadamente 15% do fundo está em companhias com valor de mercado inferior a R$10bi. As maiores posições da carteira são de companhias com valor de mercado acima de R$30bi, e representam aproximadamente 70% do portfólio. São elas, Magazine Luiza, Suzano, Klabin, Braskem, Vale, Petrobras e Ambev.      Em relação à liquidez dessas ações, podemos considerar que 80% possuem volume médio diário de negociação acima de R$50M. Vale e Petrobras, que representam quase 15% do fundo, possuem liquidez superior a R$1B.

Sandra: O fundo Alaska Black BDR Nível poderá repetir os resultados de 2016, 2017 e 2018 e ficar entre os melhores fundos do ano em 2019? Quais são as perspectivas para fundo este ano?

Henrique: Ainda enxergamos oportunidade de valorização expressiva de nossa bolsa em dólares, e estamos posicionados para tal, porém não contamos com performances como as vistas nos últimos 3 anos. Continuaremos alocando capital em empresas e ativos que consideramos baratos e acreditamos que os resultados virão no longo prazo. Não nos comprometemos com resultados de curto prazo.

 

Aproveitando o espaço, Henrique trouxe ótimas informações sobre o processo de tomada de decisões de um fundo de bastante sucesso. A opção por avaliar o ciclo de commodities é muito interessante, e é algo que deve ser observado por qualquer investidor. Esperamos que, assim como nós, você tenha aprendido bastante. Agora é aproveitar esse conhecimento, e bons investimentos!

 

Veja a entrevista original aqui
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