Como os juros negativos afetam a economia

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Juros funcionam como uma compensação pelo tempo que o dinheiro ficou investido ou emprestado. É o retorno que um investidor recebe em troca do risco de emprestar seu capital. Os juros negativos funcionam de maneira antagônica, isto é, fazem com que o valor pago seja menor que o inicialmente disponibilizado.

No mundo das taxas de juros negativas, os bancos literalmente cobram para guardar o dinheiro dos clientes, o que reflete uma clara intenção da autoridade monetária para que o dinheiro saía das instituições financeiras e vá para as empresas e para a economia. Sendo assim, considera-se como uma medida extrema para estimular a economia.

Quando os juros são positivos, os bancos recebem para deixar parte de seus recursos no bancos centrais. Todavia, com os juros negativos, eles pagam e, dessa forma, ocorre um estímulo ainda maior para emprestar dinheiro a seus clientes.

No entanto, não necessariamente o investidor perde dinheiro quando os juros dos BCs são  negativos. O juro fixado pelos bancos centrais é de curto prazo e ele pode ser negativo, entretanto, como comumente a expectativa do mercado é que a economia melhore, logo ele negocia uma taxa de juros positiva para comprar títulos públicos de prazos mais longos.

O movimento das taxas de juros negativas se intensificou com a crise mundial de 2008, que freou a atividade econômica global e forçou os principais bancos centrais (Estados Unidos, Europa e Japão) a reduzir drasticamente os juros básicos de suas economias para minimizar os efeitos da crise. Porém, os Estados Unidos superaram a crise e voltaram a mostrar crescimento, enquanto as economias do Japão e de vários países da zona do euro seguiram patinando.

Conforme dito, esse cenário na economia não é uma novidade na Europa, especialmente em algumas regiões, como é o caso da Alemanha, onde todos os títulos da dívida têm atualmente  retorno negativo. Dessa maneira, quem emprestar dinheiro ao governo alemão poderá ter um prejuízo de dois ou até 30 anos. Ressalta-se também que o Banco Central Europeu (BCE), desde 2014, cobra taxas negativas para seus depósitos. 

Além da região europeia, o Japão se utilizou das taxas de juros negativas como uma estratégia em relação à batalha contra a deflação, que desde a de década de 1990 desencoraja os consumidores a fazerem grandes compras, porque esperam que os preços caiam mais. Assim, a deflação é considerada a raiz de duas décadas de mal estar econômico . 

Mesmo grandes parcelas de mercados de bônus corporativos negociam no momento atual rendimentos abaixo de zero, inclusive parte do mercado de “junk bonds” (títulos que oferecem retorno maior, a fim de compensar o risco adicional). Os mercados emergentes também não escaparam, e os títulos emitidos por Polônia, República Tcheca e Hungria passaram a assumir as mesmas condições.

Com o início de uma guerra comercial entre os EUA e a China, acendeu-se um alerta de risco, visto que juros negativos refletem o temor de uma nova crise global. Agora, começam a aparecer os primeiros números que mostram os danos causados pela disputa e os impactos nos demais países.

Com medo de uma recessão, investidores decidiram comprar títulos públicos de longo prazo da dívida norte-americana. Esse movimento fez com que os títulos se valorizassem, o que fez reduzir o retorno do investimento. Como a demanda por papéis de curto prazo não cresceu na mesma intensidade, esses títulos ficaram mais baratos, isto é, ainda oferecem ganhos mais elevados. Isto caracteriza a inversão da curva de juros.

É por isso que a inversão na taxa de juros é considerada uma previsão de uma recessão econômica. O investidor acredita que a economia vai piorar e que as empresas vão lucrar menos. Portanto, não faz sentido comprar ações de empresas, porque elas não vão se valorizar nesse cenário. Assim, a medida mais segura é comprar  títulos públicos em períodos de crise, mesmo que o ganho seja menor.

Os juros negativos são e continuarão sendo um dos grandes desafios da geração atual, com uma quase reinvenção da política monetária, e os reais efeitos ainda estão muito incertos. Sendo assim, os riscos para a economia global ainda são bastante nebulosos, em um âmbito especulativo e de hipóteses, fazendo com que os economistas levem algum tempo para entender melhor o movimento atual de desaceleração global e as políticas monetárias.

2019-09-11
Leonardo Nogueira

Membro de Finanças do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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