O mundo do petróleo posto em xeque

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O Oriente Médio é uma das regiões mais tensas do planeta. Centenas de conflitos já foram travados no território, seja por conta de riquezas, seja por conta de ideologias e dogmas religiosos. Recentemente, as possibilidades de mais um conflito ser adicionado a essa lista aumentaram consideravelmente após os ataques a uma refinaria e a um campo de petróleo da Saudi Aramco. A empresa, estatal do governo saudita e maior produtora de petróleo do mundo, está prestes a fazer o seu IPO. 

Os ataques à refinaria Abqaiq e ao campo de Khurais aconteceram na madrugada do dia 14 de setembro, impactando 5% da produção mundial de petróleo e causando uma disparada de quase 20% no preço do barril. O grupo denominado Houthis assumiu a autoria dos ataques. Há cinco anos, o governo saudita está em guerra com este grupo, que controla parte do Iêmen. Entretanto, os Estados Unidos acusaram o governo do Irã de ser o responsável pelos ataques, pelo fato de ter sido usada uma dúzia de mísseis cruzeiro, além de mais de 20 drones, que, segundo o governo estadunidense, vieram de algum lugar ao norte ou nordeste da refinaria, e não do sudoeste, onde fica a região controlada pelo grupo Houthis. 

As crises diplomáticas entre Irã e EUA já não são novidade há um bom tempo. Por anos, o governo estadunidense acusou o governo iraniano de usar o seu programa nuclear para desenvolver armas atômicas, impondo sanções econômicas pesadas sobre o Irã. Em 2015, a situação havia se acalmado com o acordo entre as principais potências globais e o Irã: as sanções seriam retiradas se o país seguisse as regras do acordo de não proliferação de armas nucleares. 

Entretanto, em 2018 o presidente Donald Trump retirou os Estados Unidos do acordo e impôs novamente bilhões de dólares em sanções, alegando que era “um dos piores acordos em que entramos”. Desde então, as tensões e crises diplomáticas entre os dois países viraram assunto frequente nos noticiários internacionais. A derrubada de um drone dos EUA que sobrevoava o estreito de Ormuz, o ataque da guarda revolucionária do Irã (IRG) a dois navios petroleiros japoneses e o envio de cerca de 1.000 soldados americanos para a região, com o intuito de “proteger os interesses americanos”, agravaram ainda mais a situação. A acusação feita pelos EUA de o Irã ser o responsável pelo ataques à refinaria e ao campo de extração é apenas mais uma dentre as muitas tensões entre os dois países. 

A Aramco perdeu a produção de 5.7 milhões de barris por dia, sendo 4.5 milhões da refinaria de Abqaiq e 1.2 dos campos de Khurais. O fato impactou massivamente a produção mundial de petróleo e fez com que o preço do barril de petróleo bruto subisse para os US$ 70. Entretanto, a disparada nos preços durou pouco tempo. O governo saudita assegurou que a produção iria voltar ao normal em questão de semanas e que a prévia para o mês de outubro seria de 9 milhões de barris por dia, a mesma quantidade produzida no mês de agosto. Outro fator que ajudou a segurar a alta do preço foi o anúncio do presidente Donald Trump autorizando o governo a usar a reserva de emergência de barris de petróleo. Os EUA têm a maior reserva de petróleo bruto do mundo, algo perto de 700 milhões de barris. Sendo assim, o preço do barril que estava na casa dos US$ 60 antes do ataque disparou para US$ 70, mas retornou rapidamente para os patamares anteriores após as medidas tomadas pelos governos dos EUA e da Arábia Saudita. 

A Aramco afirma que já se recuperou dos ataques do dia 14 e está de volta à sua capacidade total de produção, com cerca de 9 milhões de barris produzidos por dia. Sendo assim, a empresa pretende oferecer 5% de suas ações com um valuation de 2 trilhões de dólares, podendo chegar a um valor de 100 bilhões arrecadados – 4 vezes maior que a maior arrecadação em uma IPO. O tamanho dos números impressionam, mas os investidores estão olhando a estreia da Aramco na bolsa com um certo ceticismo sobre a capacidade de a empresa chegar ao valuation de 2 trilhões. Além disso, as concorrentes pagam dividendos maiores do que a Aramco possivelmente pagaria. As previsões dizem que a empresa irá realizar o seu IPO apenas no ano que vem por conta dos ataques em suas refinarias, contra a expectativa do príncipe Mohammed Bin Salman, que gostaria de realizar o IPO ainda em novembro. 

Por fim, é impossível prever qual vai ser o próximo desdobramento da maior produtora de petróleo do mundo ou se alguma ação vai ser tomada pelos governos da Arábia Saudita, EUA e Irã. O que se pode esperar é o gigantesca IPO que deve chegar em breve e abalar o mercado, devido ao tamanho da empresa em questão. 

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Miguel Jardim

Membro de Back Office do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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