A eficiência da carteira 60-40 e o novo cenário no Brasil

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Por mais de meio século, as carteiras com alocação padrão 60-40 foram a base para os investimentos pessoais nos EUA. Essas carteiras dividem os recursos em duas principais classes de ativos: 60% em renda variável e 40% em renda fixa. Isso mesmo, a maior parte é investida em renda variável.

Uma estratégia simples, com longo histórico de retornos positivos ajustados ao risco, foi bem sucedida porque os ativos dessas respectivas classes se valorizaram nesses anos e possuíam correlação negativa.

Baseadas na Teoria Moderna de Carteira do Prêmio Nobel Harry Markowitz, essas carteiras parecem estar com os dias contados, pois as taxas de juro negativas, ou seja, a situação na qual o investidor paga para aplicar seu dinheiro, não foram consideradas no modelo.

O mercado global contabiliza hoje mais de US$ 15 trilhões aplicados em títulos com rendimento nominal negativo e outros trilhões com rendimentos abaixo da taxa de inflação.

Mas o que isso tem a ver com a nossa realidade?

A carteira do brasileiro sempre foi predominantemente alocada em renda fixa, e essa também não vai mais surtir os mesmos resultados do passado. Uma carteira com alocação 100% em renda fixa entregou retorno nominal médio anual de 14,9%, nos últimos 25 anos, desde o início do Plano Real. Daqui para frente, porém, para obter retornos perto de dois dígitos o investidor vai precisar adotar uma nova estratégia.

Não vejo ainda a carteira do brasileiro com 60% em renda variável ou em fundos imobiliários, neste primeiro momento. Seria um passo ousado demais para ser o primeiro na direção de uma alocação ajustada ao cenário de juros baixos – embora tenha meu apoio e suporte, principalmente no caso dos mais jovens ou com perfil arrojado.

O mercado de capitais brasileiro tem muito espaço para se expandir. Por uma lado, há empresas querendo financiar seus projetos em busca de recursos. Recentemente, C&A e banco BMG estrearam na B3, e outras 25 empresas já fizeram IPO ou oferta de follow-on (emissão de ações feitas por companhias que já têm papéis listados) este ano, incluindo Vivara, Banco Inter, Centauro e Neoenergia.

Há também companhias com capacidade ociosa, que podem voltar a produzir e aumentar os lucros, assim que o desemprego começar a recuar e a população voltar a consumir mais produtos e serviços.

Do outro lado, haverá mais investidores em busca de maiores retornos. O número de pessoas físicas na bolsa acabou de atingir a marca de 1,5 milhão. Ainda é um número muito pequeno se levarmos em conta que a população ocupada, de acordo com a Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílios (PNAD) do IBGE, no terceiro trimestre, registrou 93,8 milhões de pessoas. Ou ainda, se considerarmos que existem 160 milhões de indivíduos com contas de poupança, conforme Relatório Semestral do Banco Central.

Investir em bolsa não é a porta para alcançar a riqueza fácil. O significado de investir é empregar o capital com a finalidade de obter lucros, porém exige horizonte de médio e longo prazo e muita disciplina.

Estamos apenas começando um novo ciclo, a era dos juros baixos. Quem tem dinheiro ou pretende começar a fazer o pé de meia, tem que começar a olhar para o mercado de capitais como opção para rentabilizar o dinheiro poupado.
Em vez de simplesmente buscar o maior retorno, o investidor deverá buscar como alcançar seus objetivos no cenário atual. Entre obter ganhos excepcionais e dormir tranquilamente, é possível – e preferível – ficar com os dois.
Coluna originalmente publicada em 11/11 no portal Valor Investe
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