Guerra de preços no mercado de petróleo e os últimos destaques

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BRASIL EM FOCO 

Em um cenário já de desaceleração por causa do coronavírus, o fracasso da negociação da OPEP com a Rússia, somado à retaliação da Arábia Saudita que anunciou uma guerra de preços no final de semana, fez os mercados mundo afora registrarem perdas históricas. No Brasil, o pregão foi o pior desde 1998. Às 10:33, com o índice caindo 10%, o circuit breaker foi acionado, de modo que as negociações só retomaram às 11:03. Ao fim do dia o Ibovespa registrou 86.067,20 pontos recuando 12,17%, com todas as ações no vermelho. 

No câmbio, o Banco Central vendeu US$ 3,9 bilhões à vista em leilão ampliando o leilão de US$ 1 bi que estava planejado. Mesmo com as intervenções, o dólar PTAX teve alta de 1,98% aos R$ 4,7379 na venda.

No mercado de juros futuros o impacto foi sentido em toda a curva que avançou. Na ponta mais longa, os contratos de DI para janeiro de 2025 saltaram 38 pontos-base sendo negociados a taxa 6,40%.

O barril do petróleo tipo Brent – usado como referência pela Petrobras desabou 24,1% a US$ 34,36. É a maior queda diária de preços da commodity desde a guerra do Golfo Pérsico, no começo da década de 1990. As ações da petroleira brasileira foram as que registraram os piores desempenhos no pregão do dia, com as ações ordinárias recuando 29,68% e as preferenciais tombando 29,70%.

O presidente Jair Bolsonaro, que está nos EUA, se manifestou pelo Twitter desautorizando o ministro de Minas e Energia, Bento Alquerque que havia dito que estudava um instrumento via tributos para que os preços dos combustíveis não fossem tão impactados pela volatilidade dos mercados internacionais. Bolsonaro afirmou que  “não existe possibilidade do Governo aumentar a CIDE para manter os preços dos combustíveis. O barril do petróleo caiu, em média, 30% (US$ 35 o barril). A Petrobras continuará mantendo sua política de preços sem interferências. A tendência é que os preços caiam nas refinarias.”

OBSERVATÓRIO INTERNACIONAL 

Com a guerra de preços no mercado de petróleo, em apenas alguns minutos após a abertura do mercado de ações em Nova York, o S&P 500 caiu 7% em relação ao seu fechamento anterior – acionando o circuit breaker, mecanismo que interrompeu as negociações em todo o mercado de ações por 15 minutos. Ao fim do dia o índice chegou à marca de 2.746,56 pontos, uma queda de 7,60%. Dow Jones e Nasdaq também recuaram mais de 7%.

Desde 1997 o circuit breaker não é acionado nos EUA. Anteriormente a marca que desencadeava a suspensão das negociações era de 10% de queda em relação ao fechamento anterior. As mudanças atuais foram implementadas em 2013 e possuem 3 níveis. Nível 1: uma queda de 7% em relação ao preço de fechamento do S&P 500 no dia anterior desencadeia uma parada de 15 minutos. Nível 2: uma queda de 13% também provoca uma parada de 15 minutos. Em ambos os casos, os negócios não são interrompidos se o recuo ocorrer depois das 15h25 no horário de Nova York. O Nível 3 é atingido se o índice alcançar uma perda de 20% e nesse caso extremo as negociações só são retomadas no dia útil seguinte. (WSJ)

Guerras de preço, no geral, são estratégias temporárias para conquista de mercados por parte de um player de acredita ter fôlego pra sustentar um preço mais baixo até sufocar seus concorrentes. No caso atual do petróleo alguns elementos aumentam a complexidade da análise. O que aconteceu nos últimos dias foi que frente ao potencial recessivo do surto de coronavírus, a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) havia decidido coordenar a redução da oferta de petróleo mundial para que isso não impactasse os preços. A Rússia, contudo, se recusou a reduzir a produção quebrando um protocolo de atuação conjunta como Opep+ que vinha funcionando desde 2016. A justificativa russa era que enquanto ela mesma e os países da Opep buscavam adequar a produção à demanda global, novos produtores, como os EUA com o gás de xisto, passaram a ter um protagonismo maior pois foram viabilizados pela política de preços do cartel. Com a recusa da Rússia, a Arábia Saudita que possui um custo de extração mais baixo, decidiu então retaliar e ao invés de reduzir, passou a projetar um aumento da produção para abril.

Esse movimento, culminou em um dia de forte queda nos mercados globais uma vez que o potencial deflacionário do petróleo mais barato pode minar a capacidade, principalmente dos EUA, de usar a taxa de juros como instrumento de política monetária. Em um momento que os juros globais já estão próximos a zero e o crescimento econômico ainda engatinha, os governos contam cada vez menos com mecanismos de estímulo econômico. Um outro medo é no mercado de crédito que, com um crescimento mais lento, as empresas já endividadas encontrem cada vez dificuldades para sustentar suas atividades e o pagamento das dívidas.  (Al Jazeera)

Além da questão do petróleo, o coronavírus também corroborou para o derretimento do mercado. Na segunda-feira, o governo italiano estendeu restrições à circulação de pessoais e eventos públicos em todo o país, em um esforço desesperado para conter o surto de coronavírus. (The New York Times).

As medidas que foram amplamente adotadas na China no final de Janeiro, que de alguma forma conseguiram conter o surto de coronavírus, ainda encontram resistência no Ocidente. Enquanto a China continental, excluindo a província de Hubei, não registrou novos casos endógenos de COVID-19 nos últimos 2 dias, Europa e EUA ponderam tomar medidas que impactem diretamente a liberdade das pessoas e negativamente a economia. 

Nesta manhã, os mercados abriram mais pacíficos, mas não houve nenhuma notícia que mudasse o quadro de ontem: o coronavírus continua se alastrando e Arábia Saudita e Rússia seguem com a guerra de preços. A Arábia Saudita prometeu ofertar um recorde de 12,3 milhões de barris por dia no próximo mês. A Rússia, minutos depois, disse que poderia produzir 11,8 milhões de barris por dia. (Bloomberg)

Os índices das bolsas da China e Japão fecharam em alta. Na Europa, os índices também operam no positivo, subindo mais de 3%. Os futuros de Wall Street apontam para um dia reparação das perdas do dia anterior. O preço do petróleo Brent avança próximo a 9%, cotado acima de US$ 37 o barril.

RESUMO DOS MERCADOS 

Dólar PTAX  R$ 4,7379 + 1,98%
DI Fut Jan/25 6,40% + 38 bps 
Ibovespa 86.067,20 pts – 12,17%
S&P 500 2.746,56 pts – 7,60%
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