Mercado financeiro

Compartilhe o post:

Importância do Sistema Financeiro Nacional (SFN)

A percepção de que o mercado financeiro é composto apenas por agentes especuladores e a comparação a um cassino muitas vezes distanciam as pessoas de investir. Mas vamos aprender hoje que a realidade é bem diferente, e que esse mercado é importantíssimo para o desenvolvimento de economias modernas e dinâmicas.

A ciência econômica de forma geral assume a premissa que os recursos são escassos e o desejo das pessoas (e do país) é ilimitado. Por isso, estudar como se administrar a escassez se torna um dos objetivos principais dos economistas e dos formuladores de políticas públicas.

O importante aqui é destacar que as decisões dos agentes (famílias, empresas e governo) que compõem esse sistema econômico moderno estão interligadas. De um lado, as famílias oferecem os insumos necessários para a produção das empresas — como o trabalho, o capital e os imóveis — em troca dos rendimentos do salário, juros, lucros e aluguéis. Com essa renda obtida, as famílias adquirem os produtos e serviços ofertados pelas empresas. O governo, por sua vez, recolhe impostos e taxas dessas famílias e empresas, e devolve esses recursos para a sociedade em forma de projetos sociais ou serviços básicos.

O fluxo descrito está representado de forma simplificada na figura abaixo:

Fonte: Comissão de Valores Mobiliários

Imagine que uma determinada família decida consumir menos que sua renda atual, para sua segurança financeira, por exemplo. Essa família está formando uma poupança (no conceito de dinheiro guardado, não necessariamente aplicado na Caderneta de Poupança). Outras famílias, por sua vez, podem optar por consumir mais do que sua renda, em dada ocasião, e, portanto, demandam recursos.

Já as empresas, para realizar sua produção, precisam investir em máquinas, treinamentos… Para isso, precisam de dinheiro, que pode vir, por exemplo, da poupança das famílias.

Ou ainda, o governo pode, em dado momento, ter gastos maiores que suas despesas, tomando recursos no mercado; e, em outros momentos, gastar menos, e contribuir para a formação de poupança.

Podemos conceituar o Sistema Financeiro Nacional (SFN) como o conjunto de entidades e instituições que viabilizam esse fluxo financeiro entre os poupadores e os tomadores de recursos na economia. É por meio do sistema financeiro que as pessoas, as empresas e o governo circulam a maior parte dos seus ativos, pagam suas dívidas e realizam seus investimentos.

Fonte: Comissão de Valores Mobiliários

De forma geral, a importância do mercado financeiro é:

  • facilitar a intermediação financeira;
  • promover maior compartilhamento de risco, com o dinheiro de diversos poupadores indo para tomadores variados;
  • tornar possível o levantamento de mais recursos com maior rapidez, algo que em várias ocasiões não se conseguiria de outra forma; 
  • proteger o poder de compra no tempo;

O mercado financeiro é um ambiente regulado que compreende outros ambientes específicos, que são o mercado de capitais, de crédito, de câmbio e o mercado monetário.

O mercado de crédito

Esse é segmento do mercado financeiro em que as instituições financeiras captam recursos dos agentes superavitários e os emprestam às famílias ou empresas, sendo remuneradas pela diferença entre seu custo de captação e o que cobram dos tomadores. Essa diferença é conhecida como spread. 

São exemplos de instituições participantes desse mercado os bancos comerciais e as sociedades de crédito, financiamento e investimento, conhecidas como financeiras.  A atividade principal dessas instituições é a intermediação financeira propriamente dita, assumindo o risco de crédito da operação. O Banco Central do Brasil é o principal órgão responsável pelo controle, normatização e fiscalização desse mercado.

Fonte: Comissão de Valores Mobiliários

O mercado de crédito é fundamental para o bom funcionamento da economia, na medida em que as instituições financeiras assumem dois papéis decisivos. De um lado, atuam como centralizadoras de riscos, reduzindo a exposição dos aplicadores a perdas e otimizando as análises de crédito. De outro, elas funcionam como um elo entre milhões de agentes com expectativas muito distintas em relação a prazos e volumes de  recursos.

A Caderneta de Poupança, por exemplo, é um investimento desse mercado. Quando você coloca o seu dinheiro na Poupança, você recebe como remuneração hoje 70% da taxa Selic + TR — que é uma taxa referencial calculada pelo Banco Central.

A Poupança é um investimento seguro, mas com rentabilidade muito baixa. Com essa calculadora do Banco Central, você pode estimar o quanto o seu dinheiro renderia se estivesse na Poupança ou se fosse corrigido por um índice de preços ou pela Selic.

Mas, quando você está precisando de um empréstimo, o banco cobra de você um juros muito maior do que aquela remuneração que ele te paga na poupança. Cheque especial, financiamentos ou, ainda, conta garantida para empresas, são exemplos de operações de prazos curto, médio e até aleatório que ocorrem nesse mercado.

Para aprender ainda mais, confira esses vídeos do Banco Central do Brasil:

 

O mercado de capitais

Os mercados em geral podem ser classificados de acordo com diferentes características. Para o presente estudo, usamos a classificação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que diferencia o mercado de crédito do mercado de capitais tão somente pela característica da intermediação propriamente dita.  

No mercado de crédito, as instituições financeiras captam recursos dos poupadores e os emprestam aos tomadores, assumindo os riscos da operação. São remuneradas por uma diferença entre as taxas de captação e de aplicação desses recursos. 

No mercado de capitais, por outro lado, os agentes superavitários emprestam seus recursos diretamente aos agentes deficitários. As operações ocorrem sempre com a intermediação de uma instituição financeira. No entanto, nesse mercado, essas instituições atuam principalmente como prestadoras de serviços, estruturando as operações, captando clientes, distribuindo os valores mobiliários no mercado, entre  outros trabalhos. São remuneradas pelo serviço prestado.

Confira no esquema abaixo como funciona esse mercado: 

Fonte: Comissão de Valores Mobiliários

Na relação que se estabelece no mercado de capitais, os investidores, ao emprestarem seus recursos diretamente para as empresas, adquirem títulos, chamados de valores mobiliários. Podem ser títulos de dívida, que estabelecem relação de crédito entre as partes tomadora e poupadora — como as Debêntures — ou podem ser títulos patrimoniais, ou de capital, que tornam os investidores sócios do negócio, com todos os direitos e deveres decorrentes — como as Ações.

Vale ressaltar aqui que as instituições financeiras que atuam como prestadoras de serviços não assumem a responsabilidade pelo cumprimento das obrigações estabelecidas e formalizadas entre os emissores dos títulos e os investidores. São participantes desse mercado, entre outros, os bancos de investimento, as corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, as entidades administradoras de mercado de bolsa e balcão

Para os investidores, o mercado de capitais surge como alternativa às aplicações tradicionais em produtos oferecidos pelos bancos e pelo governo. Nesse mercado, os poupadores podem participar de empreendimentos que consideram interessantes.

Espera-se, em especial nos títulos patrimoniais, uma rentabilidade superior à dos investimentos tradicionais, embora com risco também superior. Isso ocorre porque, diferentemente do que ocorre no mercado de crédito, em que o risco das operações é centralizado nos bancos, no mercado de capitais o risco das operações em que os recursos são aplicados é assumido pelos próprios investidores.

O mercado monetário

Como vimos no módulo 2 do nosso curso, o objetivo do Banco Central é perseguir a meta de inflação estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Um dos instrumentos que o BC tem são as operações no open market. Como a taxa de juros é o “custo do dinheiro” — e este, por sua vez, depende de uma relação de oferta e demanda — é no mercado monetário que, por atuação do BC, as taxas  de juros convergem para a meta da Selic estabelecida pelo Conselho de Política Monetária (Copom). 

Vamos supor que em um dia específico há mais dinheiro na economia do que o governo considere o adequado. Para restabelecer o patamar de juros que pode estar pressionado por esse excesso de liquidez, o Banco Central entra no mercado monetário vendendo títulos públicos para instituições financeiras autorizadas, os dealers – o Tesouro Nacional possui atualmente 12 dealers, dos quais nove são bancos e três são corretoras ou distribuidoras independentes.

Quando ele vende um título, o comprador paga ao governo em reais; ou seja: o Banco Central retirou dinheiro de circulação. O contrário também ocorre. Se há pouca liquidez, o BC pode comprar títulos, colocando mais reais em circulação, restaurando, assim, o patamar desejado. 

É dessa forma que o Banco Central controla as taxas de juros de curto prazo, regula o nível de liquidez da economia e sinaliza a orientação da política monetária, dando credibilidade para que a Taxa Selic se mantenha em determinado nível. 

Fonte: Banco Central do Brasil

O governo também pode usar títulos públicos transacionados no mercado monetário para refinanciar dívidas e financiar projetos de políticas públicas. Nesse caso, as operações são tanto pelo Tesouro Direto quanto por meio de outras instituições financeiras. A Secretaria do Tesouro Nacional é que vai emitir essa dívida e remunerar o detentor do título conforme algum critério pré-definido.

As instituições financeiras também operam no mercado monetário para regular suas questões de liquidez; mas, no caso dos bancos, um outro título será transacionado: o CDI. Os  Certificados de Depósito Interbancário são títulos com prazo de um dia útil, emitidos pelos bancos para captar ou aplicar recursos excedentes.

Vamos entender melhor: no fim do dia, um banco pode ter excesso ou escassez de caixa, pelo saldo entre depósitos e saques. Para promover a melhor distribuição de recursos nesse sistema interbancário, os bancos que estão no vermelho  — que não podem fechar o dia assim — buscam recursos com os bancos que possuam esse excedente. 

Esses empréstimos entre os bancos são de um dia. As remunerações são regidas por uma taxa que se aproxima muito da taxa Selic, já que os riscos dos grandes bancos são muito próximos dos riscos do Brasil como um todo — se o sistema bancário brasileiro ruísse, o país estaria em uma situação muito complicada. A média dessas taxas negociadas entre vários bancos em um dia é chamada CDI Over; ou seja, ela é a taxa média diária do CDI. Como o próprio nome nos indica, o CDI é realizado entre bancos e uma pessoa física não pode aplicar diretamente no CDI.

Um exercício interessante de se fazer para começar a se familiarizar com as diferentes modalidades de títulos públicos é simular o investimento nessa classe de produtos.

O mercado de câmbio

O mercado de câmbio é onde são negociadas as trocas de moedas estrangeiras por pela moeda nacional e vice-versa. Participam desse mercado, além do Banco Central, instituições habilitadas a operar no mercado de câmbio, instituições habilitadas a intermediar operações de câmbio,  agências de turismo e correspondentes em operações de câmbio.

Os clientes dessas organizações autorizadas pelo BC são as pessoas (físicas e jurídicas) que objetivam fazer transações com o exterior, ou seja, têm recebimentos ou pagamentos a realizar em moeda estrangeira.

O comércio internacional de forma geral é realizado em dólares e essa também é a principal moeda das reservas internacionais. No comércio com outros países, os importadores brasileiros precisam de dólar para comprar seus produtos ou insumos — pois um fornecedor chinês, por exemplo, não aceita pagamento em reais. Ou seja, o importador demanda dólar.

Por outro lado, um exportador de soja que recebeu a remuneração correspondente à venda da sua safra em dólares, não tem como pagar seus funcionários aqui no Brasil com essa moeda — ele precisa de reais. Sendo assim, o exportador é ofertante de dólar no Brasil.

Em situações como as descritas, tanto importadores quanto exportadores precisam se dirigir a uma instituição autorizada, seja para adquirir dólares ou para trocar dólares por reais, respectivamente. 

A fiscalização e regulação do mercado de câmbio é feita pelo Banco Central, que dele também participa para execução da política cambial. O Brasil mantém um regime de câmbio flutuante. Nesse regime, a taxa de câmbio flutua livremente em resposta aos fluxos cambiais, sem estar submetida a níveis máximo ou mínimo estabelecidos.

Ou seja, o BC não intervém com o objetivo de regular as taxas de câmbio, mas somente para garantir o adequado funcionamento do mercado de câmbio, especialmente para reduzir a volatilidade excessiva da taxa de câmbio, evitar restrições de liquidez e garantir o provimento de mecanismos de proteção ao mercado. 

Regime de câmbio flutuante

Fonte: Banco Central do Brasil

Para fechar, a explicação do nosso economista Alexandre Espirito Santo sobre taxa de câmbio: 

 

Agora, o módulo 4 do nosso curso de educação financeira já está disponível. Esperamos você!

Compartilhe o post:

Posts Similares

3 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *