O Movimento Contrário

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Desde a crise de 2008, o Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve, o FED) não havia reduzido os juros americanos, mantendo sempre no mesmo patamar ou elevando a taxa. Desta vez, o movimento foi contrário: a taxa de juros foi reduzida a uma faixa de 2% a 2,25% ao ano. Com isso, a partir deste momento, a grande questão é: por que o FED, depois de 11 anos, decidiu baixar os juros? O fato ocorreu pela pressão que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fazia sobre o Banco Central americano ou foi uma decisão necessária, previamente analisada pelo Federal Reserve?

Mesmo com o consumo das famílias e o mercado de trabalho muito fortes, uma das justificativas dadas por Jerome Powell, presidente do FED, para a diminuição da taxa de juros foi a visão de que está havendo uma desaceleração econômica global. Além disso, outro argumento foi o desejo de convergir a inflação para a meta, a qual, além de estar extremamente baixa, também estava abaixo do esperado. Considerando que, ao diminuir a taxa de juros americana, o investidor desaloca o seu capital especulativo e o direciona para o setor produtivo, há maior geração de empregos e, consequentemente, o aumento no consumo. Geralmente, estes fatores geram uma elevação da inflação. A inflação americana apresenta-se em 1,6%, porém a meta do FED é de 2%. O Banco Central americano alega que a redução na taxa de juros pode permitir que a inflação alcance a meta.

  Outro fator a se considerar é que essa redução da taxa de juros americana afeta os outros países, incluindo o Brasil. Isso ocorre justamente pelo fato de os Estados Unidos serem a maior potência econômica e o dólar a moeda mais forte. Assim, com essa redução da taxa de juros americana, o dólar fica mais “barato”. Isso garante um volume maior de entrada de dólar em um país como o Brasil, por exemplo, favorecendo o fortalecimento da moeda local. Ademais, investidores americanos irão procurar países com taxas mais altas para ter um retorno maior. Uma das maneiras de o Brasil ser beneficiado é dessa forma, justamente pelo fato de nossa taxa de juros estar em 6% ao ano, o que seria um retorno consideravelmente maior para o investidor estrangeiro.

  O mercado americano não esperava essa redução da taxa de juros, o que ocasionou uma queda de 1,1% do índice S&P 500. O índice do dólar reagiu fortemente, permitindo uma máxima em mais de 2 anos. Além da influência da taxa de juros, é de extrema importância ressaltar que a relação dos Estados Unidos não vai nada bem com a China novamente, o que é relevante para a reação do mercado acionário americano. A curva de rendimentos dos treasuries inverteu pela primeira vez desde 2007, o que pode indicar que uma recessão americana está por vir. Entretanto, segundo o Presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, essa inversão da curva dos treasuries deveria continuar por um certo tempo para que seja um indicador relevante de uma futura recessão norte-americana.

A reação do mercado americano foi extremamente negativa ao tomar conhecimento da inversão da curva de rendimento. O índice Dow Jones caiu 3,05%, Nasdaq caiu 3,02%, S&P 500, 2,93%. O setor de energia, dominado pela Chevron e ExxonMobil, também teve um mau desempenho. Chevron caiu 3,08% e ExxonMobil caiu 4,03%. O setor de finanças idem. Citi, JP Morgan e Wells Fargo registraram quedas. Citi teve uma baixa de 5,28%, JP Morgan caiu 4,15% e Wells Fargo fechou com 4,33% negativos. Além dos setores mencionados anteriormente, há o setor de tecnologia. Empresas como Apple, Microsoft e IBM foram afetadas. Apple fechou com -2,98%, Microsoft desvalorizou 3,01% e IBM encerrou o dia com -3,34%. Das 500 empresas que fazem parte do S&P500, apenas 3 fecharam o dia em alta.

As grandes perguntas são: será que a diminuição da taxa de juros americana foi uma boa medida a ser tomada? Será que, com a redução do juros, os Estados Unidos conseguem atingir a meta de inflação desejada? Será que, com a medida tomada pelo FED, os gastos empresariais aumentarão? Todo esse questionamento foi resultado de um movimento feito pelo Banco Central americano. Diante destes fatos, só saberemos as respostas com os próximos passos da economia americana e global.

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Gabriel Lacerda

Membro de Finanças do CEMEC, empresa júnior vinculada ao IBMEC, que tem como proposta principal realizar estudos e pesquisas sobre o mercado financeiro.

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